2010-02-27

MongoDB

Logo Há atualmente na Computação uma onda de adoção de bancos de dados não-relacionais, comumente chamados NoSQL.

O foco principal dos bancos NoSQL atuais é a orientação a documentos, uma variação hash da orientação a objetos e alternativa aos RDBMSs, que dominaram a orientação dos gerenciadores de banco de dados por décadas.

O principal banco NoSQL é o CouchDB, DBMS do Projeto Apache baseado em Erlang, porém há uma alternativa bem mais simples e aparentemente tão poderosa quanto: MongoDB.

MongoDB combina os melhores funcionalidades de orientação a documentos, hashes e RDBMSs. É um banco de dados orientado a documentos, escalável, livre de esquema, de alto desempenho e código aberto escrito em C++.

Este artigo aborda a instalação do servidor em ambiente Slackware e Ubuntu. Para uso veja artigo no Kodumaro.

Obtenção do pacote


No momento em que escrevi este artigo, não havia pacote APT do MongoDB, mas a instalação foi bastante simples e comum a ambos os sistemas em questão.

Primeiro obtenha o binário para sua arquitetura da página de download:


Instalação


Crie a seguinte estrutura de diretórios:
bash$ sudo mkdir -p \
/srv/mongodb/etc /srv/mongodb/sbin \
/srv/mongodb/var/data /srv/mongodb/var/log


Descompate o binário do MongoDB em /srv/mongodb:
bash$ sudo tar xzvf mongodb-linux-*.tgz -C /srv/mongodb/


Crie o arquivo de configuração do servidor em /srv/mongodb/etc/mongodb.conf com o seguinte conteúdo:
#auth = true
fork = true

dbpath = /srv/mongodb/var/data
logpath = /srv/mongodb/var/log/mongo.log
logappend = true

bind_ip = 127.0.0.1
port = 27017


Crie o script de inicialização do servidor /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server:
#!/bin/bash

MONGO_HOME=/srv/mongodb
MONGOD="$MONGO_HOME/current/bin/mongod"
CONF_FILE="$MONGO_HOME/etc/mongodb.conf"
PID_FILE="$MONGO_HOME/var/log/mongo.pid"


function start_mongo() {
if [[ -e "$PID_FILE" ]]
then
echo "MongoDB daemon seems to be running, PID $(cat $PID_FILE)" >&2
echo "if the daemon is not running, remove the PID file: $PID_FILE" >&2
return 1
fi
echo "$MONGOD -f $CONF_FILE"
"$MONGOD" -f "$CONF_FILE" | head -n1 | cut -d: -f2 > "$PID_FILE"
}

function stop_mongo() {
if [[ ! -e "$PID_FILE" ]]
then
echo "MongoDB daemon seems not to be running, killing it anyway" >&2
fi
pkill -2 mongod && rm -f "$PID_FILE"
}

function status_mongo() {
if [[ -e "$PID_FILE" ]]
then
echo "MongoDB daemon seems to be running with PID $(cat $PID_FILE)"
else
echo "MongoDB daemon seems not to be running"
fi
"$MONGOD" --sysinfo
}


case "$1" in
start)
start_mongo
;;
stop)
stop_mongo
;;
restart)
stop_mongo
sleep 1
start_mongo
;;
status)
status_mongo
;;
*)
echo "options: [start|stop|restart|status]" >&2
;;
esac


E dê permissão de execução ao arquivo:
bash$ sudo chmod +x /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server


Crie um link simbólico para o diretório do binário do MongoDB:
bash$ cd /srv/mongodb/
bash$ sudo ln -s mongodb-linux-* current


Crie um link simbólico para o script de inicialização para o diretório de rc-scripts. No Ubuntu é assim:
bash$ cd /etc/init.d/
bash$ sudo ln -s /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server mongodb-server


No Slackware:
bash$ cd /etc/rc.d/
bash$ sudo ln -s /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server


Para tornar o serviço inicializável é bastante diferente em cada sistema, mas são procedimentos padrão, portanto não vou descrevê-los aqui.

Crie um apelido (alias) para o cliente (a chamada pode ficar em um script executável em /etc/profile.d/):
bash$ alias mongo='/srv/mongodb/current/bin/mongo'


Usuário alternativo


É possível não usar o superusuário para rodar o MongoDB. Para isso crie um usuário:
bash$ sudo useradd \
-c 'MongoDB Server' \
-d /srv/mongodb \
-g daemon \
-s /usr/bin/false \
-u 29 mongodb


Altere o rc-script para executar os processos como usuário mongodb. A linha 18 vira:
sudo -u mongodb "$MONGOD" -f "$CONF_FILE"  | head -n1 | cut -d: -f2 > "$PID_FILE"


E a linha 27:
sudo -u mongodb pkill -2 mongod && rm -f "$PID_FILE"


Mude as permissões do diretório de dados:
bash$ sudo chown -R mongodb /srv/mongodb/var/data


Configurações iniciais

Inicie o serviço:
bash$ sudo /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server start


Se tudo correr bem, já estará no ar. Precisamos criar um usuário administrador:
bash$ mongo
MongoDB shell version: 1.2.2
url: test
connecting to: test
type "help" for help
> use admin
switched to db admin
> db.addUser('admin', 'ra35EG/dz');
{ "user": "admin", "pwd": "2167016d7d6c88bcc8029ad2b1a7f1ff" }


Saia do prompt e edite o arquivo de configuração /srv/mongodb/etc/mongodb.conf, descomente a primeira linha:
auth = true


E reinicie o serviço:
bash$ sudo /srv/mongodb/sbin/rc.mongodb-server restart


Agora o banco de dados vai pedir autenticação:
bash$ mongo
MongoDB shell version: 1.2.2
url: test
connecting to: test
type "help" for help
> show dbs
assert: assert failed : listDatabases failed
Sat Feb 27 13:04:51 JS Error: uncaught exception: assert failed : listDatabases failed
> use admin
switched to db admin
> db.auth('admin', 'ra35EG/dz');
1
> show dbs
admin
local


Habilitar o serviço para conexões externas


Caso você queira permitir conexões externas, altere em /srv/mongodb/etc/mongodb.conf a linha sobre bind_ip:
bind_ip = 0.0.0.0


E reinicie o serviço.

**


Espero que este artigo tenha sido útil. Para mais informações, continue lendo o artigo no Kodumaro.

[]’s
Cacilhas, La Batalema

2010-02-22

Falácias pseudotecnológicas contra o FLOSS

Tux O crescimento da liberdade tecnológica tem incomodado fortemente os grupos empresariais e políticos que controlam e monopolizam o poder e o conhecimento.

Um dos principais vetores da liberdade tecnológica é o FLOSS – Free/Libre and Open Source Software. Algumas pessoas se enganam quanto as vantagens e características do FLOSS, mas quando grandes empresas de tecnologia, empresas midiáticas e até associações, que têm o conhecimento para saber a verdade, espalham inverdades, elas estão de má fé e querem prejudicar VOCÊ em benefício do lucro próprio.

Seguem algumas mentiras descaradas que os aparelhos de marketing inventam na tentativa de controlar VOCÊ:

  • O FLOSS não possui todas as funcionalidades de configuração, gerenciamento e integração quanto software proprietário como o Windows.

Na verdade o FLOSS pode possuir até mais funcionalidades que o software proprietário. A propósito, na comparação GNU/Linux vs. Windows, a superioridade do FLOSS é clara e incontestável, é preciso querer muito não ver para imaginar o contrário.

Na prática o FLOSS é mais configurável, mais personalizável e mais adaptável que o software proprietário por não estar limitado aos interesses de uma empresa ou de um grupo empresarial, podendo assim ser desenvolvido continuamente de acordo com os interesses dos próprios usuários.

[update 2010-02-23]
Veja a resposta ao FUD de um colunista da Microsoft Technet.
[/update]


  • Leis que dão preferência ao FLOSS ou tornam-no obrigatório são prejudiciais.

A visão aqui é que tais leis beneficiariam algumas empresas em prejuízo de outras. Difícil conceber mentira mais deslavada.

Estamos falando de opção filosófica na escolha do licenciamento, não das empresas.

Os licenças proprietárias amarram ao fornecedor o cliente, que se torna escravo e dependente, já que não pode trocar de fornecedor sem trocar toda a estrutura implementada.

Já quando o software é de código aberto, o fornecedor poder ser substituído por outro – ou até mesmo por equipe interna – quando for conveniente, libertando o cliente da dependência, seja ele uma empresa, um órgão governamental ou VOCÊ.

Isso sem pirataria ou ilegalidade.

E toda e qualquer empresa pode liberar software sob licença de código aberto, inclusive a Microsoft.

  • A migração para o FLOSS custou caro para os cofres públicos.

Não tão caro quanto a simples renovação de licenças proprietárias. Adicione a isso a aquisição de novas licenças e o orçamento vai pra Júpiter.

  • O TCO do FLOSS é superior ao do software proprietário.

Esta afirmação é baseada na falsa teoria de que os leigos já aprendem sobre software proprietário através do contato que travam com ele pela imposição do mercado.

Mentira! Coloque um leigo para administrar um sistema e ele vai simplesmente destruir tudo!

Já foi provado por comparação que o TCO (total cost of ownership) do software proprietário é sensivelmente superior ao do FLOSS. Somente pesquisas pagas e coordenadas pela própria Microsoft afirmam o contrário.

  • FLOSS é de graça e tudo que é de graça é ruim.

Não satisfeito por ter sido desmentido, o corruptor contradiz a si mesmo e trata como pejorativamente gratuito algo que ele próprio já havida dito antes ser muito caro.

O «F» de FLOSS não significa gratuito, daí o «L» que o segue: free/libre.
Free as in Freedom, not as in free beer — Livre como em Liberdade, não como em cerveja de graça. (R. M. Stallman)

O gasto com FLOSS não é na aquisição de licenças, que deveriam ser públicas, mas na contratação de serviços.

[update 2010-02-23]
Alguns apontadores que coletei sobre o assunto:

[/update]


  • FLOSS é comunista e contra o Capitalismo

FLOSS não é contra o Capitalismo (eu sou) e muito menos comunista (eu sou)… FLOSS é contra o desrespeito ao consumidor.

Se você é consumidor (e quem não é?) e não quer ser desrespeitado, dê preferência ao FLOSS.

  • Ninguém sério usa FLOSS.

Precisamos então avisar algumas organizações que elas não são sérias:


**

Espero que este artigo tenha sido esclarecedor.

[]’s
Cacilhas, La Batalema

2010-02-20

Crime hediondo dá prêmio no Brasil

Olha a cara do Ezequiel Ezequiel Toledo de Lima, um dos assassinos do João Hélio, ganhou como prêmio por seus atos morar na Suíça!

O Programa de Proteção a Assassinos e Criminosos Mirim deu-lhe de prêmio uma nova vida melhor, com mais qualidade de vida – pelo menos até que o bastardinho assassine uma criança suíça. O prêmio lhe foi dado porque brasileiros revoltados ameaçaram fazer justiça com as próprias mãos onde a lei falhou.

Realmente acredito em dar uma segunda chance aos criminosos, mudar de vida, corrigir-se com a sociedade, mas tudo tem limite. Pelo grau de hediondez do crime cometido é justificável um estigma vitalício. Creio que crimes hediondos, quando há provas irrevogáveis, deveriam tirar da pessoa o estado de ser humano.

[update 2010-02-27]
Nesta semana a justiça voltou atrás e reviu a pena de Ezequiel, que negociou sua volta com a ajuda de Carlos Nicodemos (que devia estar no banheiro cagando enquanto João Hélio, de 7 anos, era arrastado pelas ruas) e se entregou para cumprir pena em regime semiaberto para poder estudar (sabe voar, estudante?).
[/update]


[]’s
Cacilhas, La Batalema


P.S.: Onde estava o Programa de Proteção a Crianças quando o Ezequiel arrastava João Hélio pelas ruas Rio?

2010-02-19

Veja: explicitamente golpista

Nosso amigo Aurélio Heckert destacou a posição desinformante da Revista Veja:

#WTF #Ridículo!!! Pela primeira vez um governador é preso e a #Veja coloca «efeito sanfona» na capa! http://3.ly/XlX (Valeu @pitanga!)


Depois, quando dizemos que Veja é golpista, dizem que não somos imparciais e acham-se no direito de sentirem-se ofendidos.

Estão aí os fatos, provando a imparcialidade da acusação de imprensa golpista e a parcialidade do PiG.

Mas para o PiG imparcialidade é defender os interesses dos poderosos…

[]’s
Cacilhas, La Batalema

2010-02-11

Falácias do Ateísmo

Ergo sum Tenho amigos ateus assim como amigos evangélicos, católicos, xiitas e até judeus. Este artigo não é sobre eles, é sobre os ateus fanáticos.

Os ateus fanáticos insitem em algumas falácias e tentam evangelizar as pessoas para o Ateísmo.

Seguem três delas:

Religião induz a comportamento autodestrutivo

O André do blog (pseudo)ceticismo.net escreveu um artigo sobre um idiota rapaz que morreu afogado após tomar o chá do Santo Daime.

No artigo, André faz das tripas coração para tentar provar que o rapaz se matou por culpa do Santo Daime.

Segundo a lógica distorcida de André o chá levaria seus usuários a adotar comportamento autodestrutivo, o que eventualmente poderia se concretizar em suicídio.

Se essa abobrinha fosse verdade, o índice de suicídio entre daimistas deveria ser maior do que a do resto da população, ou pelo menos a espectativa de vida de daimistas deveria ser menor, devido ao comportamento inconsequente ou a algum suposto mal fisiológico consequente do consumo do chá.

Se nosso amigo desinformado tivesse feito o dever de casa saberia que, durante estudo sócio-cultural conduzido durante as décadas de 1980 e 1990, o CONAD averiguou que as populações de daimistas apresentavam um número constrangedoramente alto de pessoas com mais de 80 anos, todas em perfeito estado de saúde, ao contrário das comunidades não-daimistas nas mesmas condições, que apresentavam baixíssima espectativa de vida e pouca saúde no fim da vida.

Sabendo disso, a argumentação do André se mostra inválida. Um ganhador do prémio Darwin não justifica condenar toda uma comunidade.

Os mais novos dados sobre o chá podem ser encontrados no sítio do CONAD.

Restam ainda duas possibilidades…

Algumas pessoas possuem predisposição genética e/ou memética para o comportamento autodestrutivo potencialmente suicída. Costumo chamar essas pessoas de idiotas e algumas até são premiadas por isso.

Algumas pessoas argumentam que religiosos são idiotas, mas isso desabilitaria qualquer argumentação antirreligiosa, já que a conversão religiosa seria determinística.

Sempre que um religioso ganha um prémio Darwin, os ateus fanáticos dizem que não foi idiotice, mas que o comportamento autodestrutivo foi induzido pela Religião.

Assim esses idiotas não seriam originalmente idiotas, mas teriam adotado comportamento autodestrutivo devido à Religião.

Seguindo essa lógica, nenhum religioso seria realmente idiota, mas estaria simplesmente induzido.

Está bem, está bem… há os idiotas e há os induzidos… mas pela lógica dos ateus fanáticos sempre que algum religioso se mata ele foi induzido, portanto não existe religioso idiota.

Por outro lado, quando um ateu se mata, segundo o prisma dos ateus, não é porque o Ateísmo priva o homem de um conformo espiritual, levando-o à depressão. A desculpa é sempre idiotice.

Portanto existe ateu idiota.

Se não existe religioso idiota e existe ateu idiota, por lógica simples se deduz necessariamente que todo idiota é ateu.

Ou isso ou todo lugar tem idiota, vai da cabeça do leitor o que faz mais sentido.

O Ateísmo induz a conduta moral

Sim, já ouvi muito isso!

Pela lógica do ateu fanático, como o Ateísmo não impõe castigo post mortem, os ateus adotam uma conduta moral voluntariamente.

Mas todo ateu adota uma conduta moral?

As estatísticas dizem que sim apenas porque, chegando no xilindró, todo mundo prefere dizer-se evangélico a virar a moça da cela. Ou seja, há ateus psicopatas e sociopatas, mas quando a situação aperta, lançam mão da hipocrisia para proteger-se.

Um psicopata é um psicopata, ateu, evangélico ou católico. Só que se o psicopata/sociopata acreditar em uma religião que lhe impõe castigos no além, ele se controla, salvando a sociedade de suas crueldades.

Isso o Ateísmo não pode fazer pela sociedade.

Ateísmo é Ceticismo

Ateísmo é a crença na inexistência de um deus, portanto, excluindo a ideia de Ceticismo.

Mas há os pseudocéticos, que são ateus, materialistas ou sensualistas que, pela característica negativa de suas crenças, confundem-nas com Ceticismo.

Ceticismo é dúvida, não é negação. Negar é crer – crer no contrário, mas ainda assim crer.


**

Tenho um lado religioso (não sigo religião alguma, são crenças pessoais) e outro cético, e meu lado cético é o que se sente mais ofendido quando pseudocéticos e ateus fanáticos fazem sua evangelização.

[]’s
Cacilhas, La Batalema

2010-02-10

Fim da Era Apache

Nginx
Durante muito tempo a única alternativa séria para um servidor web era o Apache HTTPd – para uns poucos loucos havia também o IIS, mas sempre foi um tiro no pé. Esse tempo acabou.

Já há alguns anos surgiu o Lighttpd (pronuncia-se como lighty), um servidor leve capaz de fazer tudo – no sentido prático, não técnico – que o o Apache faz, só que mais leve.

Agora surge uma alternativa russa, o Nginx (pronuncia-se como engine X), que me surpreende mais e mais a cada dia.

Além da leveza e da velocidade assustadora para servir arquivos estáticos, a configurabilidade do Nginx é surpreendente: ao contrário de outros daemons – não só servidores web e certamente não só em ambiente Posix –, não há mágica nem truques: você faz uma configuração e ele responde fazendo exatamente o que você quer.

Costuma-se dizer que em Informática o software não faz o que você quer, mas o que você manda. No caso do Nginx as duas coisas são uma coisa só.

Essa configuração simples e direta permite uma capacidade de otimização e maximização de resultados muito superior a de qualquer outro servidor.

Além de servidor web, HTTP e HTTPS, Nginx também pode atuar como proxy para serviço web ou correio eletrónico, SMTP, IMAP ou POP3.

A única ressalva que faço contra o Nginx é o fato de alguns módulos addons terem se tornado obsoletos, como por exemplo SCGI e WSGI, sendo suportados apenas até a versão 0.5 do Nginx. No caso específico dos dois addons citados não há problema, pois o módulo FastCGI satisfaz plenamente sua falta, porém tenho um certo receio de precisar de algum addon obsoleto.

Ainda assim, como conclusão, recomendo Nginx como servidor web para adminstradores responsáveis, conscientes e cansados das peculiaridades e frescuras de configuração dos servidores tradicionais.

[]’s
Cacilhas, La Batalema

2010-02-09

Extradição de Cesare Battisti

Mendes vs Barbosa Estranhei bastante o Caso Cesare Battisti porque a decisão sobre extradição é uma decisão judicial, portanto cabe ao Poder Judiciário, em outras palavras, ao Supremo Tribunal Federal.

Porém estranhamente Gilmar Mendes apenas recomendou a extradição, deixando a decisão final para o Presidente Lula.

Mas peraí… presidente é Poder Executivo: executa! Quem toma decisões judiciais é o Judiciário. Como assim decisão final?

E mais bizarro ainda: o Presidente Lula vetou a decisão do STF, colocando-se em uma posição muito comprometedora.

Essa história toda estava muito mal contada, até que o blog Maria Frô trouxe luz ao caso!

A extradição de Battisti viola tratado Brasil-Itália, ou seja, é internacionalmente ilegal, e quem se comprometesse assinando a extradição estaria comentendo crime contra os Direitos Humanos, podendo ser levado à Corte Internacional.

Gilmar Mendes sabia disso. Lula sabia disso. Gilmar Mendes sabia que Lula sabia.

Portanto a decisão do STF sobre a estradição de Battisti deixando a decisão final para o Presidente foi um ato político criminoso, com o intuito de gerar FUD contra nosso presidente e talvez até chegar a um impeachment. Mais um ato de vilania da direita golpista.

A frase mais forte que me levou a tal conclusão foi esta: «O Tratado Brasil-Itália não deixa a liberdade de extraditar ou não. Ele proíbe extraditar quando existem alguns dos riscos enumerados acima. Aquele que extraditar Battisti estará violando o tratado.»

O texto original no blog Maria Frô é grande mesmo, mas merce ser lido. Eu mesmo ainda preciso lê-lo na íntegra mais algumas vezes para digerir todas as informações:

Como a Extradição de Battisti Violaria Fortemente o Tratado Brasil-Itália


[]’s
Cacilhas, La Batalema


PS: Olha a ditabranda aí!

2010-02-02

A novela da qual fazemos parte

Declev Dib-Ferreira, do blog Diário do Professor, publicou o incrível texto do professor Geraldo Ramos, reproduzido aqui, sobre a falsa culpabilidade do professor e a responsabilidade rejeitada de pedagogos, diretores, políticos e pais.

O artigo original pode ser lido aqui. Boa leitura!

A novela da qual fazemos parte

A situação caótica da educação brasileira tem raízes diversas e complexas. Quero, porém, abordar uma questão que poucas pessoas dispensam atenção – o discurso pedagógico. Nos últimos anos, os professores foram doutrinados a pensar que são inteiramente responsáveis pela educação (seja o sucesso, seja o fracasso), como se a relação professor-aluno fosse o único elemento a se considerar neste processo. As produções acadêmicas de psicólogos, pedagogos e psicopedagogos são unânimes em apontar o culpado pela decadência do ensino no país – o magistério. Claro que não dizem isso diretamente, mas é indiscutível que esta ideia está implícita em suas teorias.

A minha intenção é não cair no lugar comum e dizer que o sistema está falido devido à má formação e atualização dos professores, da desvalorização moral, social e econômica dos docentes, da falta de infra-estrutura da maioria das escolas do país, enfim, isso todos já sabem, não se discute.

O que estou propondo é ampliar este debate. Deste modo, vou citar um estudioso do assunto, Júlio Groppa, adorado por todos aqueles que compartilham o prazer de falar mal do magistério, sobretudo público. Trata-se de uma análise rápida, apenas com a intenção de ilustrar o que pretendo repudiar.

O senhor Júlio Groppa foi escolhido pela secretaria de educação da cidade onde leciono para apresentar uma palestra intitulada «A indisciplina na sala de aula». Na ocasião, deixou os docentes revoltados com sua arrogância e colocou toda a culpa da desobediência dos alunos nas costas do professorado. Se levarmos em consideração que as palestras deste profissional são muito requisitadas pelas secretarias de educação pelo Brasil afora, trata-se de afirmar que é um discurso comprado (ou assumido) pelo Estado.

Em uma de suas entrevistas, o «professor» Júlio Groppa afirma que a questão da violência na escola é tratada com alarde pela imprensa e pelos professores. A situação é bem menos grave do que parece. Quando questionado sobre a posição dos docentes em falar que o problema está na (falta de) educação familiar do aluno, o referido autor é categórico ao dizer que o professor deveria «se silenciar» ao abordar questões que estão fora da sua alçada. Sem comentários!

Em outra ocasião, num artigo intitulado «da palavra e o professor: notas sobre pregar, narrar e democratizar», o senhor Júlio Groppa busca no século XVII um texto referencial para defender suas teses. Trata-se de um sermão do Padre Antônio Vieira discorrendo sobre o fracasso das pregações do seu tempo. Desprovido de qualquer análise do contexto histórico de Vieira, o «educador» Júlio Groppa faz suas as conclusões do padre: o fracasso é culpa do pregador.

O estudioso da USP não está sozinho. Faz um bom tempo que as faculdades de pedagogia não fazem outra coisa senão culpabilizar os professores pelo insucesso da aprendizagem dos seus alunos. Poderia aqui citar outros inúmeros profissionais renomados que compartilham este pensamento.

Muitos educadores adoram trazer experiências bem sucedidas na Europa e adaptá-las ao Brasil. Claro que eles se esquecem que lá a educação é levada a sério. Os professores recebem um salário compatível com sua importância social. Pratica-se a verdadeira democratização do ensino, ou seja, a educação pública é freqüentada por todos. Desta forma, toda a sociedade realmente se preocupa com a qualidade de suas escolas. No Brasil, quem tem dinheiro simplesmente manda o filho para uma escola particular. Resolve-se, assim, o problema, bem ao jeitinho passivo do brasileiro!

Entretanto, quando penso na Europa como referencial educacional prefiro seguir uma prática bastante comum na maior parte deste continente: a distribuição de papéis. As leis educacionais costumam definir a seguinte estrutura: ao Estado cabe disponibilizar toda a estrutura para que as escolas possam funcionar; ao professor cabe a obrigação de ensinar, sendo apoiado pelo Estado neste papel; ao aluno cabe a obrigação de aprender, sendo apoiado pela família neste papel. Mais simples do que isso é impossível.

Sabe-se que as certezas e verdades são tão efêmeras quanto duvidosas. Porém, há muitos anos que o Brasil resolveu adotar um pensamento como dogma – a noção de ensino-aprendizagem. Assim como numa Inquisição, cometer a heresia de contestar esta verdade é passível de condenação, menos mal que hoje em dia dispensamos as fogueiras, embora mantenhamos os expurgos.

É preciso abrir um parêntese. Não estou colocando em discussão inúmeros estudos sérios demonstrando a relação estreita entre a forma de ensino e o tipo de aprendizado. Apenas chamo a atenção para os desdobramentos que isto acabou provocando no pensamento pedagógico, sobretudo brasileiro. Utilizando a lógica do dogma em questão, deduzimos que só há ensino se houver aprendizagem, ou seja, se o aluno não aprendeu é porque quem ensinou – o professor – falhou. Que engraçado, acho que já falamos disso lá em cima.

O discurso que aqui entendemos ser dominante na educação brasileira acabou por trazer uma triste consequência para o trabalho do professor. Diante da realidade (alunos semi-analfabetos chegando ao Ensino Médio), muitos colegas sucumbem e apesar de saber que seu aluno não tem condições de seguir adiante não querem conviver com o rótulo de fracassado. No final do ano, arruma-se sempre um «jeitinho» para que o «aproveitamento» seja «satisfatório». Alimenta-se, desta forma, um circulo vicioso. Mas este mesmo discurso, bancado pelo Estado (viva Júlio Groppa!), está ajudando o Brasil a melhorar os seus números (viva Maquiavel!). Que coisa linda ver aquela mulher do comercial subindo as escadas do desenvolvimento na educação do país! O Ideb só melhora! Escolas e prefeituras pulam de alegria quando veem seus cofres mais cheios por cumprirem a meta do Ideb. O contraditório é que isso tudo contrasta com aquilo que os professores percebem no dia a dia do seu trabalho: a cada ano que passa o «nível» fica pior. Qual é o segredo?

Se você pensar um pouco mais, com calma, vai perceber o quanto de podre se encontra a educação brasileira. O país quer mostrar para o mundo que investe na educação, para isso precisa melhorar os índices de escolaridade. Uma das primeiras iniciativas foi a tão conhecida universalização da educação, garantindo a todas as crianças o acesso à escola. Para garantir lugar para toda esta demanda, era comum os governantes criarem escolas, assunto corriqueiro nas campanhas políticas. Com o passar do tempo, achou-se que não precisava de mais unidades, afinal, seguindo a linha do «coração de mãe», quem dá aula pra 20 pode muito bem se virar com 40. E, afinal de contas, como já testemunhei uma educadora dizer, «não há nenhuma pesquisa comprovando que numa turma menor há melhor aprendizado».

Outra iniciativa, esta mais recente, foi incluir a antiga Classe de Alfabetização no Ensino Fundamental, uma manobra simples que aumentava em 1 ano a escolaridade do brasileiro.

Paralelamente, buscou-se uma forma de quantificar a qualidade da educação. Encontrou-se uma fórmula mágica. O Ideb faz uma média entre a nota da Prova Brasil, os índices de evasão e de repetência. E não é de se estranhar que o peso dos números da repetência é maior do que o da avaliação nacional.

Agora é só fazer a brincadeira do siga os pontinhos: o Brasil quer que o Ideb do país melhore e para isso fornece gratificações para os estados e municípios que obtenha tal feito. Os estados e municípios querem receber mais dinheiro e por isso premiam as escolas que conseguem melhorar seu desempenho. Junta-se agora a fome com a vontade de comer. Temos um professor encurralado por dois lados: por um, a equipe pedagógica dizendo que quanto mais ele aprovar, mais competente ele é; de outro, uma secretária de educação ou o diretor de escola (loucos por mais verba) dizendo que quanto menos ele reprovar, menos chance de algo acontecer com ele (leia-se demissão, para os contratados; perseguições; transferências de escola; desvios de função, etc.). Ingredientes perfeitos para explicar uma das facetas da falência da educação no país.

Mas quando se culpa o professor pelo fracasso escolar do aluno, há de se debater outros pontos. Quando falamos em educação, somos obrigados a falar em quatro atores: Estado, professor, aluno e família. Toda vez que alguém restringe esta tarefa à relação professor-aluno incorre num erro grave.

Há pouco tempo li um texto de um colega professor, Declev Dib-Ferreira, que aborda, entre outras coisas, esta discussão. O autor dizia que recebemos, salvo algumas exceções, um aluno extremamente carente. Primeiro é o Estado, que desde os seus primórdios dias quase sempre não cumpre com que prometeu. Coisas «pequenas» como o que a constituição do país ordena: saneamento básico, saúde, segurança, habitação etc. Com isso, temos a criança e sua família desprovida de elementos básicos para se viver dignamente. E por falar em família, além de sofrer toda a falta do Estado, o aluno, antes de chegar até você, professor, ainda passa pela experiência de ser criado em ambientes tão desestruturados como os lares atuais. Poderia aqui falar da ausência de limites imposta às crianças, da falta de exemplos, da violência doméstica etc. Mas assim estaria desobedecendo às ordens do mestre Groppa.

Tudo isso foi pra dizer que quando recebemos um aluno em sala de aula, ele já se encontra afetado por inúmeros traumas que vão, indiscutivelmente, afetar seu desempenho educacional. No entanto, os mesmos atores (Estado e família) que malograram no seu papel, transferem para os docentes a culpa que deviam repartir.

Como os antigos hereges, não busco criar uma doutrina nova. É exatamente por acreditar na capacidade transformadora da educação que afirmo: somente avançaremos quando os quatro atores admitirem suas limitações e suas falhas. Enquanto a novela da qual fazemos parte continuar a colocar o professor como vilão, continuaremos a ver a mesma história, ano após ano.

Geraldo Ramos

Professor



Texto com reflexões de um educador: a culpa é do professor?


[]’s
Cacilhas, La Batalema