2011-10-22

Críticas ao Esperanto

Hoje eu li na Wikipédia o artigo Criticism of Esperanto. É o perfeito exemplo de como leigos podem escrever besteira quando acham que entendem de algo.

Eu tenho diversas críticas contra o Esperanto: alfabeto contendo diacríticos; carência de uma série de correlativos, como aliu, alio, alia, alies, aliel, alie, aliam, aliom e alial; o plural de algumas palavras torna a pronúncia complicada; etc.

No entanto, todas as formas de corrigir o Esperanto geraram recursos de qualidade inferior, como Ido e Facile.

No entanto, lendo o artigo na Wikipédia, fica óbvio que as objeções comuns levantadas pelo autor foram feitas por alguém (ou alguéns) que não sabe esperanto e nem ao menos possui conhecimentos de linguística, dado grau de besteiras ditas.

Comentarei alguns tópicos…

Carência de neutralidade


De fato o vocabulário é predominantemente germânico-latino e a fonética é eslava. No entanto a gramática foi fortemente inspirada em algumas construções das línguas sínicas, não europeias.

Há ainda muitos radicais de origem no árabe, no hebráico e nas línguas mesoasiáticas.

Algo mais neutro do que Esperanto é o Volapük, que é tão neutro que se mostra alienígena, contra-intuitivo e extremamente difícil – o que foge ao foco da ferramenta.

Artificialidade


No tópico anterior o autor se queixou do excesso de eurocentrismo, já nesse ele critica a falta de eurocentrismo.

Concisão vai bem, obrigado!

O autor dessa crítica deve ser algum defensor fanático e irracional de Interlíngua, aliás outra língua artificial que respeito e pela qual sou apaixonado.

Esperanto não tem cultura


Esse sujeito realmente entendeu o objetivo do Esperanto?!

A língua esperanto nasceu para ser uma ferramenta de comunicação internacional, se a pessoa reclama que uma panela de feijão não faz torradas é porque realmente não sabe sobre o que está falando.

O cara não sabe sobre o que está falando duas vezes, porque o Esperanto é uma panela que faz torradas!

A cultura esperantista tem crescido enormente no último século e meio. Você pode ter uma leve ideia em Esperanto.Org, La Verda Krokodilo e Esperanto.com.

Dificuldade em tornar-se fluente


Você consegue falar em duzentas horas de prática. Com um ano de conversação você está fluente.

Quanto tempo você se torna fluente em inglês mesmo? Heim? Heim? Heim?

Mas devo admitir que o fanatismo e otimismo excessivo dos esperantistas acaba levando os iniciantes a criarem falsas expectativas.

O Esperanto pode sobrepujar outras línguas


Acho que o retardado que disse isso não percebe que são a língua inglesa e sua cultura que têm destruído inúmeras outras culturas.

O Esperanto é a vacina contra a globalização unilateral, pois é uma ferramenta, não uma manifestação nacional completa capaz de sobrepujar culturas alheias. Foi criado para isso e com esse fim em mente.

Diacríticos


Aqui eu concordo em gênero, número e grau.

Não gosto das letras chapelas – ĉapelaj leteroj. Para lápis, caneta e papel, não oferecem a menor dificuldade, mas ao lidar com um teclado, real ou virtual, as coisas se complicam.

Os dígrafos com H sugeridos pelo Zamenhof causam confusão, então os dígrafos com X são melhores, mesmo assim são muito pouco intuitivos.

Sexismo


A pretensa acusação de sexismo ao Esperanto é claramente uma demonstração de desconhecimento da língua.

É baseada em algumas palavras essencialmente masculinas, como viro, sinjoro e patro por exemplo, que de fato possuem gênero.

Mas por padrão as palavras em esperanto são livres de gênero, são neutras.

Assim, leono é leão no sentido geral, espécie: leão, leoa, filho, adulto, etc. Para falar-se especificamente em leoa diz-se leonino e para falar especificamente em leão (macho) diz-se virleono.

Então, qualquer sexismo que seja eventualmente identificado é resultado de momentos históricos, e menor do que o encontrado em outras alternativas.

Casos desnecessários


Aqui há uma demonstração de ignorância total sobre linguística.

O fato das línguas terem casos irregulares não indica que os casos não existam.

Por exemplo, pense na relação entre use, useful e usefully.

Na verdade o que você vê aqui são o caso nominativo/acusativo, adjetivo e adverbial.

O mesmo ocorre em português.

O que a língua esperanto tem a mais é a separação entre nominativo e acusativo, o que traz muito mais recursos poéticos e diminui a possibilidade de ambiguidade.

Concordância de número


No mesmo tópico, é feita a reclamação da concordância entre adjetivo e nome.

É uma reclamação típica dos anglófonos, sabidamente incompetentes no entendimento de línguas estrangeiras.

A concordância aqui também diminui a ambiguidade.

O Esperanto falhou


É fato: o Esperanto realmente falhou, mas não pelos motivos apresentados.

O Esperanto falhou porque as pessoas no poder – no mundo todo – se beneficiam da hieraquia criada entre as línguas naturais, onde você é considerado uma pessoa superior se souber inglês, e ainda mais respeitável se falar fluentemente. Se for um anglófono nativo, você é melhor do que os outros.

Numa posição hierárquica um pouco inferior – mas ainda superior ao português – estão o espanhol e o francês.

Essa diferença de classes em função da língua falada gera todo um mercado de destruição cultural que beneficia pessoas poderosas e os linguisticamente incompetenes, como a maioria dos anglófonos.

E argumentação de que aprender inglês seria um tempo melhor gasto é mais uma desinformação consciente e calculada para que as pessoas não se interessem pelo Esperanto, já o tempo para seu aprendizado é curto, não prejudicando o aprendizado do inglês – aliás facilita, pois acrescenta outras perspectivas que excercitam os mecanismos sinápticos necessários ao aprendizado do inglês ou qualquer outra língua.

Então você ouve pessoas dizendo «I needjy too go too the bafroom» e achando que estão arrasando… :-P

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-10-17

Crônicas do malandro mané carioca, ou «volta pro colégio!»

Baal
Tem uma coisa que descobri: por volta de nove em cada dez malandros é mané.


Hoje na fila do caixa do banco demorei mais do que precisava porque:

  1. Havia duas pessoas com carência emocinal que, após terem terminado suas transações, continuaram alugando os caixas com problemas pessoais.
  2. Um mané segurou justamente o caixa com quem eu precisava falar, tentando diversas formas de engabelamento.


O mané tinha umas cinco ou seis contas a pagar.

Deu a primeira conta e perguntou quando era. A menina do caixa respondeu um valor uns centavos maior do que R$6,00. O cara deu um bolo de dinheiro dizendo que estava certo.

A menina contou e disse que faltava um tanto – acho que da primeira vez faltavam R$0,25 – e o mané, fazendo cara de parede, completou.

Depois de efetuado o pagamento, a menina do caixa perguntou se tinha mais alguma coisa, e o cara respondeu que sim, passando a segunda conta.

O mesmo procedimento foi efetuado: ela disse que era x, ele entregou um bolo de dinheiro, a menina disse que faltavam R$1,00 e tanto, ele completou.

Ela perguntou se havia mais alguma e quantas contas faltavam, e ele entregou a terceira conta.

O mesmo procedimento se repetiu então para cada uma das contas, sempre sem informar quantas faltavam e sempre dando um bolo de dinheiro que não completava o valor da conta.

P☆#☠ que pariu!

Ou o cara se acha muito malandro – que mané! – ou não sabe calcular, pagar contas, nem usar dinheiro!

Acho que deveria ser feita a exigência do cliente saber pelo menos as quatro operações matemáticas básicas e também que se o caixa deveria ter a restrição de perguntar «Mais alguma coisa?» somente uma vez… não informou tudo, que se f☃!@, volta pro fim da fila!

Tem dois ditados que adoro:
  1. Malandro é malandro, mané é mané.
  2. O malandro de verdade conhece as vantagens da honestidade: é honesto só por malandragem.


[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-10-15

E agora mesmo!

Dennis Ritchie No mesmo mês em que morreu o mago da distorção da realidade, também nos deixa Dennis Ritchie, criador das linguagens de programação B (baseada em APL) e C e cocriador do sistema operacional UNIX.

Se Steve Jobs esteve envolvido direta ou indiretamente com cada avanço tecnológico que não fosse voltado para resolver problemas da própria máquina, salvo raríssimas exceções, Dennis Ritchie foi o criador da linguagem de programação – e dos conceitos envolvidos – usada como base para quase todas as linguagens modernas, além de ter participado ativa e diretamente da criação do sistema operacional que serve de base para todos os sistemas atuais que funcionam.

A parte mais triste é ver todo o bafafá em cima do falecimento de Jobs, mas nada se fala de Ritchie, tão importante quanto. Ou pior… vi programadores que não sabem quem foi Dennis Ritchie!

Como eu disse, um programador que não conheça Dennis Ritchie, Dijkstra e Knuth precisa mudar de profissão ou tomar muita porrada.

[]’s
Cacilhας, La Batalema


P.S.: Artigo reproduzido no Kodumaro.

2011-10-07

E agora?

R.I.P. Steve Jobs Li gente reclamando que a reação dos internautas à morte do Jobs foi exagerada… bem, acho que essas pessoas que reclamam não percebem que o legado de Steve Jobs é muito mais do que Macintoshes, iPads e iPhones.

Quase tudo na Informática que não foi criado para resolver problemas da própria Informática veio direta ou indiretamente dele, desde tipografia, interface gráfica – resgatada de Palo Alto pelo Jobs – até as ideias que viabilizam seu Android.

Original no Facebook


Comentário do Carlos Farias:
E todas as pessoas que leram a sua mensagem, inclusive eu, só o fizeram por causa dele. Não importa o dispositivo ou sistema que usaram.


E pra quem acha que a Microsoft tenha verdadeiramente criado algo útil: Always the second.

[]’s
Cacilhας, La Batalema