2012-11-22

Centroesquerdismo e a falácia etimológica

Heim?

Alguns amigos meus inteligentes (sem ironia) têm caído na falácia etimológica, recurso de desinformação extremamente tentador, muito utilizado por direitistas de mau caráter.

O princípio da falácia etimológica é dizer que a construção morfológica da palavra define o conceito representado pela mesma.

Esse conceito já se mostra falho logo de cara, quando encaramos algumas palavras interessantes, como Cálculo: se a morfologia definisse o conceito, Cálculo seria estudado em Geologia, não em Matemática, como bem lembrado pelo blog Bule Voador.

Deixando isso de lado, ataquemos diretamente a distorção de conceito que pretendo: Direita versus Esquerda políticas.

Amigos meus têm se tido muito equilibrados, nem direita, nem esquerda, mas centro. É o mesmo que dizer que uma variável bool contém o valor ½.
Fulano está vivo ou morto?
— Mais ou menos, ele está num equilíbrio entre os dois estados.
#WTF
Ou:
Há uma estrada, não há nada por perto, você em que direção seguir ou morre de fome. Em qual direção você segue? Direita ou esquerda?
— Nas duas.

Para entender por que é impossível, precisamos entender o significado de Direita e Esquerda.

Quando a França declarou bancarrota no reinado de Luís XVI, instaurou-se um parlamento medieval para gestão do estado. Os parlamentares se posicionavam à direita ou à esquerda do trono nas votações, de acordo com sua decisão.

À direita do trono posicionavam-se os parlamentares a favor da autoridade real e dos privilégios da corte, que acreditavam que a sociedade só poderia se manter através dos abismos de classe: para eles a riqueza de um país se define pela esmagadora riqueza das elites em oposição à pobreza extrema do proletariado.

À esquerda do trono posicionavam-se os parlamentares a favor da supremacia do parlamento e da igualdade social, acreditavam que um país só pode ser rico pela segurança econômica dos mais pobres.

Com a revolução e o começo da república, o conceito de Direita Política foi adaptado (sem prejuízo do significado original) para os políticos a favor das elites, da burguesia e da manutenção dos abismos sociais como garantia de saúde do estado. O conceito de Esquerda Política se tornou a proteção das classes menos favorecidas, a busca pela mitigação das diferenças sócio-econômicas e defesa dos conceitos republicanos de democracia e igualdade.

Percebam que são princípios essencialmente dicotômicos e conflitantes:
  • Manutenção dos abismos sociais vs. mitigação das diferenças
  • Classes sociais distintas (vitalícias e hereditárias) vs. igualdade social
  • Defesa dos privilégios das elites vs. democracia e direitos iguais

São conceitos inter-excludentes, meio termo não é viável.

Porém, seria muito feio um político assumir clara e explicitamente que ele deseja de fato pisar no povo que o elege e favorecer sua própria classe social – ou a que ele pretende ingressar –, prejudicando ainda mais os desfavorecidos em benefício próprio.

Daí, esses mesmos políticos e sociólogos sem ética usaram a falácia etimológica, ignorando o background histórico, e inventaram essa besteira de equilíbrio político.

Desse falso equilíbrio nasceu a mácara – pois o conceito não é novo – chamada Centroesquerdismo, que nada mais é que a Direita Política com um nome eufêmico.

Com um nome bonitinho, os direitistas centroesquerdistas cativam esquerdistas desatentos, que vão aos pouquinhos acreditando na mentira do equilíbrio inexistente e nas inverdades que mascaram o elistismo pró-burguês. Pouco a pouco vão migrando suas ideias e acabam por defender conceitos elitistas falsamente equilibrados.

Então, pensem muito ao usar jogos de Atari e analogias de equilíbrio, porque as falácias sempre fazem sentido no primeiro momento e parecem argumentos muito inteligentes, mas não sobrevivem a uma análise mais profundo – caso se queira mesmo analisar em vez de procurar por soluções confortáveis.

A se pensar:
  • Machismo é sim um mal; Feminismo não é o oposto de Machismo, é a luta por direitos iguais.
  • Esquerda Política não é Comunismo; Direita Política não é um contraponto de equilíbrio, é defesa das desigualdades e dos grupos dominantes.
  • Direitos de homossexuais e bissexuais não interferem nem agridem os direitos dos heterossexuais.
  • Ateísmo não é perseguição contra a religião; laicidade não é o fim da religião, mas também não dá o direito de ninguém impor sua religião sobre os outros – pelo contrário.
  • Parem pelamordedeus com esse mimimi patriarcal de grande macho branco heterossexual de classe média!
reverse racism

[]’s
Cacilhας, La Batalema