2011-08-27

Dennett e o amor

Quebrando o encanto Tenho estado sem ideias sobre o que escrever.

Ultimamente vejo muita gente defendendo e – pasmem! – criticando o feminismo. Parece o assunto da moda.

No entanto meu assunto preferido é religiosidade e ateísmo.

Não sou ateu, mas sou um livre pensador. Vejo que muitos ateus – não todos, claro – têm caído nos mesmos encantos dos fanáticos religiosos sem se darem conta.

Esses encantos se resumem basicamente à alienação causada pela reiteração proporcionada pela imersão cultural, uma imersão que é social e seletiva.

Ou seja, o indivíduo se cerca de outros invíduos que compartilham das mesmas ideias e as repetem uns para os outros até não haver mais margem para aceitação de críticas e contrapontos.

As crenças – ou fatos como os pseudocéticos gostam de chamar – são sempre a priori, nunca sendo revisadas – apenas falsas reconstatações forjadas.

O religioso confessa crenças nas quais não crê apenas porque é o que se espera de um religioso. Da mesma forma, humanistas, secularistas e livres pensadores se confessam ateus apenas porque é o que se espera deles, não por o serem de fato.

E repetem para si mesmos que acreditam, porque o grupo do qual fazem parte espera isso deles, senão não serão considerados brights.

Mas não é disso que quero falar hoje… quero falar do lado bom disso tudo.

Quero citar um trecho maravilho do livro Quebrando o Encando de Daniel C. Dennett:

O fato de tanta gente amar suas religiões, tanto quanto ou mais do que qualquer coisa na vida, é realmente um fato a ser ponderado. Eu estou inclinado a achar que nada poderia ter mais importância do que aquilo que as pessoas amam.

De qualquer modo, não consigo pensar em nenhum outro valor que eu pudesse pôr acima disso. Eu não gostaria de viver em um mundo sem amor.

Será que um mundo em paz, mas sem amor, significaria um mundo melhor? Não, se a paz fosse alcançada retirando-se o amor (e o ódio) do nós pelas drogas ou pela repressão.

Será que um mundo com justiça e liberdade, mas sem amor, seria um mundo melhor? Não, se isso nos transformasse, por algum modo, em cumpridores da lei sem amor, sem nenhum dos anseios ou das invejas e ódios que são a mola propulsora da injustiça e da submissão.

É difícil considerar essas hipóteses, e duvido que possamos confiar em nossas primeiras intuições a respeito delas.

Mas, pelo que se apresenta, eu suponho que quase todos nós queremos um mundo no qual o amor, a justiça, a liberdade e a paz estejam presentes, tanto quanto possível. Se tivermos de abrir mão de um deles, contudo, não seria – e não deveria ser – do amor.

Mas, é triste dizer, mesmo que seja verdade, que nada pode importar mais que o amor. Não se pode deduzir daí que não temos motivos para questionar as coisas que nós e outros amamos.

O amor é cego, como se diz, e como o amor é cego, muitas vezes leva à tragédia: há conflitos nos quais um amor é jogado contra outro amor, e alguém tem de ceder, com sofrimento garantido em qualquer resolução.


Todo o texto acima se encontra em um único parágrafo, no capítulo 9, seção I.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-08-11

O Ateísmo como artifício falacioso (assim como qualquer religião)

Quebrando o encanto Estou lendo o livro Quebrando o Encanto: A religião como fenômeno natural, de Daniel C. Dennett.

Ótimo livro, apresenta um desenvolvimento muito interessante de pensamento, salvo alguns detalhes…

Dennett é um tremendo morde-e-assopra, ao começar qualquer raciocínio, ele dá claramente a entender crer que ele e quem pensar como ele sejam superiores, Übermensch, detentores de conhecimento e sabedoria supremos e prestes a compartilhar com quem se submeter a sua superioredade, enquanto todos que pensarem diferente são ignorantes demais para terem o direito de tentar qualquer argumentação.

Mas logo depois, evolui o raciocínio defendendo o direito dos ignorantes serem ignorantes, como se isso fosse uma forma de respeito.

Decartes, o fanfarrão


Sabemos que grandes gênios também cometem erros, porém, até que se prove factualmente que uma determinada afirmação de um gênio seja besteira, ela merece ao menos o benfício da dúvida – o mais sagrado princípio do Ceticismo.

Dennett ataca René Descartes, mestre do Negativismo, chamando-o de confuso por defender o conceito de mente como res cogitans.

Segundo Descartes, a mente possui existência a parte do corpo. Já Dennett e seus correligionários acreditam inflexivelmente que a mente seja resultado dos impulsos elétricos do cérebro.

Nada nega cientificamente a ideia de que a mente seja uma entidade a parte da matéria conhecida e que o cérebro seja uma interface de duas vias do corpo com a mente, mas o pseudocético defende fortemente suas crenças.

Por outro lado, Dennett elogia e defende Skinner, que supervalorizava a previsibilidade em detrimento da liberdade, e John Locke, que considerava a mente humana uma tábua rasa, sem profundidade, ambos sem provas.

No entanto ausência de evidência é evidência de ausência para os ateus, sempre que isso for conveniente ao Ateísmo.

Se eu não vejo, não existe


Tudo aquilo que a ciência, onisciente segundo as afirmações contraditórias de Dennett, não reconhece, não existe: é ilusão, imaginação fértil se multiplicando memeticamente.

A explicação é (desfarçadamente) que se algo pode ser fraudado, então é fraude.

Portanto o exército norte-americano deve ser uma fraude, já que a religião de John Frum na ilha Efate acreditam que seus deuses, os soldados norte-americanos, voltarão um dia. Se eles podem fraudar o exército norte-americano, então deve ser uma fraude.

Porém quando você chega às argumentações sobre fraude e imaginação, já leu muita coisa desde quando o próprio Dennett citou a religião do Pacífico e não faz a conexão, não percebe a contradição.

Outros poderão dizer: mas os soldados não são deuses!

E o que são deuses? Seres superpoderosos que descem dos céus em seus barcos alados e podem matar um homem apenas apontando seu bastão mágico?

Nem tudo são flores


Mesmo assim o livro é muito interessante. Além de expor as contradições grotescas do Ateísmo, expõe muitos ridículos das grandes religiões e suas mentiras, também a ingenuidade das pequenas crenças.

É impecável sua lógica sobre como é estranho a maioria das pessoas no mundo discordarem de um religioso – qualquer que seja – se ele é o dono da verdade.

Outro argumento interessante é este:
E imagine que os fãs das histórias de Harry Potter, de J. K. Rowlings, tentassem iniciar uma nova tradição: todos os anos, no aniversário da publicação do primeiro livro de Harry Portter, as crianças receberiam presentes dados pelo menino, que entraria pela janela em sua vassoura mágica, acompanhado por sua coruja. Vamos tornar o Dia de Harry Portter um dia mundial para as crianças! Os fabricantes de brinquedos estariam todos a favor…


Ideia revoltante, não? Mas já fizeram isso… chama-se Papai Noel.

[]’s
Cacilhας, La Batalema