Dennett e o amor
Tenho estado sem ideias sobre o que escrever.
Ultimamente vejo muita gente defendendo e – pasmem! – criticando o feminismo. Parece o assunto da moda.
No entanto meu assunto preferido é religiosidade e ateísmo.
Não sou ateu, mas sou um livre pensador. Vejo que muitos ateus – não todos, claro – têm caído nos mesmos encantos dos fanáticos religiosos sem se darem conta.
Esses encantos se resumem basicamente à alienação causada pela reiteração proporcionada pela imersão cultural, uma imersão que é social e seletiva.
Ou seja, o indivíduo se cerca de outros invíduos que compartilham das mesmas ideias e as repetem uns para os outros até não haver mais margem para aceitação de críticas e contrapontos.
As crenças – ou fatos como os pseudocéticos gostam de chamar – são sempre a priori, nunca sendo revisadas – apenas falsas reconstatações forjadas.
O religioso confessa crenças nas quais não crê apenas porque é o que se espera de um religioso. Da mesma forma, humanistas, secularistas e livres pensadores se confessam ateus apenas porque é o que se espera deles, não por o serem de fato.
E repetem para si mesmos que acreditam, porque o grupo do qual fazem parte espera isso deles, senão não serão considerados brights.
Mas não é disso que quero falar hoje… quero falar do lado bom disso tudo.
Quero citar um trecho maravilho do livro Quebrando o Encando de Daniel C. Dennett:
O fato de tanta gente amar suas religiões, tanto quanto ou mais do que qualquer coisa na vida, é realmente um fato a ser ponderado. Eu estou inclinado a achar que nada poderia ter mais importância do que aquilo que as pessoas amam.
De qualquer modo, não consigo pensar em nenhum outro valor que eu pudesse pôr acima disso. Eu não gostaria de viver em um mundo sem amor.
Será que um mundo em paz, mas sem amor, significaria um mundo melhor? Não, se a paz fosse alcançada retirando-se o amor (e o ódio) do nós pelas drogas ou pela repressão.
Será que um mundo com justiça e liberdade, mas sem amor, seria um mundo melhor? Não, se isso nos transformasse, por algum modo, em cumpridores da lei sem amor, sem nenhum dos anseios ou das invejas e ódios que são a mola propulsora da injustiça e da submissão.
É difícil considerar essas hipóteses, e duvido que possamos confiar em nossas primeiras intuições a respeito delas.
Mas, pelo que se apresenta, eu suponho que quase todos nós queremos um mundo no qual o amor, a justiça, a liberdade e a paz estejam presentes, tanto quanto possível. Se tivermos de abrir mão de um deles, contudo, não seria – e não deveria ser – do amor.
Mas, é triste dizer, mesmo que seja verdade, que nada pode importar mais que o amor. Não se pode deduzir daí que não temos motivos para questionar as coisas que nós e outros amamos.
O amor é cego, como se diz, e como o amor é cego, muitas vezes leva à tragédia: há conflitos nos quais um amor é jogado contra outro amor, e alguém tem de ceder, com sofrimento garantido em qualquer resolução.
Todo o texto acima se encontra em um único parágrafo, no capítulo 9, seção I.
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Cacilhας, La Batalema