2009-05-30

Na Itália pode?

Ótimo email que recebi de meu amigo Pablo:

Muito interessante… esta semana, os jornais atacaram Chávez acusando-o por «atos ditatoriais».

A acusação se deu pela chegada à Venezuela do escritor peruano Mario Vargas Llosa, crítico do governo de Chávez,
que teria sido advertido «amavelmente» por um funcionário da alfândega, ainda no aeroporto internacional da Venezuela, a não
fazer declarações sobre a política venezuelana por se tratar de um estrangeiro.

A imprensa caiu em cima do fato, e Chávez então convidou Llosa, o historiador mexicano Enrique Krauze e o
ex-chanceler do México, Jorge Castañeda, todos críticos do governo, a participar de um debate na tv com intelectuais
partidários de Chavez.

Esta semana, na Itália, a editora Einaudi, de propriedade de Berlusconi, censura o último livro do escritor português José Saramago, por
conter críticas ao primeiro-ministro italiano. Não só pelas críticas no livro, mas também pelas feitas no blog de Saramago em vários artigos
nos últimos seis meses.

Em outro episódio, em entrevista ao programa Mezz'ora, da RAI, Berlusconi se irrita com Lucia Annunziata, levanta e vai embora, dizendo à
apresentadora, que já foi presidente da RAI, que essa entrevista é uma vergonha para a carreira dela, e que devia se lembrar que ele é
o dono da RAI.

E a imprensa, o que diz de Berlusconi, sobre seu pacto de conivência com o ex-fascista Gianfranco Fini e o racista Umberto Bossi,
sobre seu império das comunicações que lhe garante o poder político, sobre sua política xenófoba e seus campos de detenção (ou concentração,
como o próprio comparou), sobre o envolvimento em escândalos de corrupção, entre tantas outras coisas?

É o novo fascismo italiano, que vem surgindo e pouco se fala. E depois ditador é o Chávez…

Pablo Torres

2009-05-28

Dar a própria opinião

Baal Muita gente anda a confundir embasamento com medo de opinar.

Pense no número 7,8 bilhões… o que significa? Estrelas? Grãos de areia? Anos-luz de distância?

O número sozinho não faz sentido, porque está descontextualizado.

O nome disso é dado.

Agora, se aplicarmos um contexto ao dado, por exemplo, R$ 7,8 bi gastos anualmente pela Petrobras no governo Lula, o dado passa a fazer sentido… ele se torna uma informação.

No entanto uma informação sozinha, sem referências, dá margem a inúmeras interpretações.

Então, quando relacionamos a informação com um contexto mais amplo, por exemplo, R$ 7,8 bi gastos anualmente pela Petrobras no governo Lula contra R$ 12,5 bi gastos anualmente da Petrobras no governo FHC, a informação se torna pertinente. Ela se torna conhecimento.

No entanto informação pode ser aprendida, mas conhecimento deve ser criado.

Portanto é muito mais simples colecionar informações do que criar conhecimento.

O problema é que, apenas com informações, não se forma opinião. A tendência é a pessoa se tornar intelectualmente dependente e acreditar em tudo que seus gurus – aqueles em quem a pessoa confia para fornecer as informações – ditam. Perdem a capacidade de questionar o que vem «de cima».

Essas pessoas chamam de embasamento a própria falta de opinião. Geralmente são pessoas que se levam muito a sério, não são capazes de rir de si mesmas.

Não escrevo isto para agredir ou atacar ninguém, apenas pretendo lançar um alerta porque se contentar com coleção de informações é um perigo muito forte mesmo para pessoas inteligentes.

O remédio para esse mal é incrivelmente simples: questionar! Questionar o que não acreditamos, o que acreditamos, aqueles em quem confiamos, os gurus e principalmente a nós mesmos.

[]'s
Cacilhas, La Batalema

2009-05-25

Anis estrelado

Anis estrelado Outro dia li em Um Homem das Cidades que a gripe suína fez, em nove anos, apenas cem vítimas fatais.

Então por que todo esse show sobre a gripe suína?

Porque há uma planta que (não cura nem gripe comum, mas) alivia consideravelmente os sintomas de gripe. A Roche desenvolveu um medicamento baseado nessa planta, chamado Tamiflu e vendido como antiviral.

A Roche conseguiu, depois de muito tempo – nove anos? – adquirir 90% da produção mundial da planta, passando a controlar o mercado. Daí convenceu o governo dos EUA a alarmar o mundo sobre a gripe suína e, assim, criar uma das mais criminosas campanhas publicitárias já vistas.

Tudo bem… deixemos a politicagem e o maucaratismo de lado.

Na própria matéria do José Antonio Capoy diz qual a planta: anis estrelado.

Bem, sexta-feira passada gripei com vontade… no sábado nem conseguia levantar da cama para ir ao banheiro.

No domingo minha esposa resolveu experimentar o chá do tal anis estrelado. Tomei a primeira xícara. Em meia hora estava me sentindo bem melhor. Tomei a segunda… meia hora depois estava muito melhor.

Depois da terceira estava quase inteiro.

Hoje trabalhei o dia inteiro tomando chá de anis estrelado e foi o que me segurou.

Fica então a dica: quando estiver com uma gripe muito forte e os sintomas estiverem derrubando você, algumas xícaras de tempos em tempos de chá de anis estrelado – quentinho de preferência – vão fazer milagres.

[update 2009-08-12]
Gripe e meias verdades
[/update]


[]'s
Cacilhas, La Batalema


PS: Artigo sugerido pelo Henrique Bastos.

2009-05-23

Dados sobre a Petrobras

Vamos aos valores:

  • Gastos anuais da Petrobrax sem licitação em valores não atualizados durante o governo FHC: R$ 12,5 bi
  • Gastos anuais da Petrobras no governo Lula: R$ 7,8 bi
  • Valor de mercado da Petrobrax no governo FHC: R$ 54 bi
  • Valor de mercado da Petrobras no governo Lula: R$ 300 bi


Então quem deveria estar sendo investigado não deveria ser a Petrobras reconstruída, mas o filho da * que tentou destruí-la.

[]'s
Cacilhas, La Batalema


Referências:

2009-05-15

Publicações de artigos sem referência

lppjunior Este é um assunto em que todo blogueiro deveria pensar muito.

Meu caro amigo L.P. escreveu um texto inspirado sobre a a falta de referência em alguns artigos copiados ou traduzidos.

Convido então o leitor a visitar o artigo original e boa leitura!

[]'s
Cacilhas, La Batalema

2009-05-14

A inveja mata

Baal É incrível como tucano é invejoso.

Defendem a «Dependência ao Norte» a todo custo, citam o reconhecimento junto ao imperialismo estadunidense como se fosse uma grande prova de superioridade.

No próprio artigo do Paulo Henrique Amorim, aparece gente querendo desacreditar a UNESCO por desinformação ou desmoralização do prémio Félix Houphouët-Boigny.

Agora veja só o absurdo! Gente que acha que o PiG e a tucandade merecem mais respeito do que a UNESCO! =O

Uma desinformadora resalta todos os méritos pessoais de FHC:

Fernando Henrique só fez isso ai na vida!!
Que pena que ele não se tornou em torneiro mecânico né? Talvez assim tivesse mais valor!!!

Formou-se em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), da qual se tornou professor em 1952. Engajado nas lutas pela melhoria do ensino público e pela modernização da universidade, foi perseguido depois do golpe de 1964. Viveu exilado no Chile e na França. Voltou ao Brasil em 1968 e assumiu, por concurso público, a cátedra de Ciência Política da USP. No ano seguinte, foi aposentado compulsoriamente e teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 5.

Fundou então, com outros professores e pesquisadores cassados, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), que se tornaria um importante núcleo de pesquisa e reflexão sobre a realidade brasileira. Em palestras e artigos na imprensa, destacou-se como crítico do regime militar e defensor de uma transição pacífica para a democracia.

Além da Universidade de São Paulo, da qual é professor emérito, ensinou nas Universidades de Santiago, no Chile; da Califórnia (Stanford e Berkeley), nos Estados Unidos; de Cambridge, na Inglaterra; de Paris-Nanterre, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, e no Collège de France, na França. De 2003 a 2007, foi professor at-large do Thomas J. Watson Jr. Institute for International Studies, da Brown University, nos Estados Unidos.

Foi presidente da Associação Internacional de Sociologia (1982-1986), recebeu o título de Doutor Honoris Causa de mais de 20 universidades e é membro honorário estrangeiro da American Academy of Arts and Sciences.

Entre os seus livros publicados no Brasil estão: A arte da política: a história que vivi (2006); O presidente segundo o sociólogo, entrevista a Roberto Pompeu (1998); O mundo em português, um diálogo com Mário Soares (1998); A construção da democracia (1993); Dependência e desenvolvimento na América Latina, com Enzo Faletto (1969, reeditado em 2004); Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul (1962, reeditado em 2003). Entre os publicados no exterior, o mais recente é The accidental president of Brazil (2006).

Além dos muitos artigos em revistas de vários países, o conjunto dos seus pronunciamentos e discursos quando presidente da República, Palavra do Presidente, foi publicado em dezesseis volumes pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Brasília, 2002).

Em 2005, foi eleito um dos cem maiores intelectuais públicos do mundo, em levantamento das revistas Prospect e Foreign Policy. (Vera)


O que para um observador desatento parece uma grande coisa, olhando com mais calma vemos: como um intelectual tão formado pode vender sua alma para interesses estrangeiros?

Isso o torna ainda mais culpado. Sob meu ponto de vista, ele deveria ser considerado traidor da pátria.

Além de que a autora do comentário demonstra preconceito social de quem considera um intelectual mais «gente» do que um torneiro mecânico. Cara! Isso deveria valer um processo!

No entanto a pátria de muita gente por aqui não é o Brasil, mas o Capitalismo e o próprio umbigo…

[]'s
Cacilhas, La Batalema

Prêmio Félix Houphouët-Boigny para Lula

Brasil
O presidente Lula recebeu da UNESCO o prêmio Félix Houphouët-Boigny.

O anúncio foi feito pelo ex-presidente de Portugal, Mário Soares, ontem à tarde em Paris. Lula recebeu o prêmio por causa de ações em promoção da paz e justiça social, erradicação da pobreza e proteção aos direitos humanos.

O prêmio existe desde 1989 e já foi recebido por personalidades como Nelson Mandela, Jimmy Carter, o rei Juan Carlos da Espanha, Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, entre outros estadistas.

Referência: Unesco dá prêmio a Lula por causa dos pobres. E o FHC?

[]'s
Cacilhas, La Batalema

2009-05-12

Maqām Hiyascar e mixolídia bebop b9b13

Berimbau Sempre adorei música, não só prática, mas também teórica: adoro estudo de harmonia, ritmo, escalas…

Atualmente estou apaixonado por duas escalas: Maqām Hiyascar e mixolídia bebop b9b13.

Maqām Hiyascar


Maqām Hiyascar é uma das maqāmāt (escalas) da escola árabe de música.

Na música árabe, há uma preocupação muito grande com os tetracordes, que são cada sequência de quatro graus de uma escala.

Por exemplo, na escala diatónica, modo jónio: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si - dó; o primeiro tetracorde é: dó - ré - mi - fá, o segundo tetracorde é: sol - lá - si - dó.

Cada tetracorde pode ser descrito pelos intervalos entre os graus, por exemplo, dó para ré é um tom, ré para mi é um tom e mi para fá é um semitom. Assim dó - ré - mi - fá pode ser descrito como tom - tom - semitom, ou T-T-sT.

Repare que o segundo tetracorde também pode ser descrito como T-T-sT: na música árabe as maqāmāt primárias são as que possuem os dois tetracordes idênticos. Quando o segundo tetracorde é diferente, a maqām é considerada derivada da que possui os dois tetracordes idênticos a seu primeiro.

A principal e mais importante maqām para os árabes é a Maqām Rast, formada pela duplicação do tetracorde T-sT-T, formando assim o modo dórico da escala diatónica: (1) (2M) (3m) (4) (5) (6M) (7m) (8)*

Assim como a Maqām Rast, outra maqām importante é a Maqām Hiyascar, formada pela duplicação do tetracorde sT-TsT-sT.

Isso dá: (1) (2m) (3M) (4) (5) (6m) (7M) (8)

Ou, em dó maior: dó - réb - mi - fá - sol - láb - si - dó

A meus ouvidos ela tem uma sonoridade simplesmente magnífica.

Mixolídia bebop b9b13


No Jazz as escalas bebop são muito valorizadas.

Duas coisas definem uma escala bebop: ¹é uma escala com a sétima da dominante mas acrescida da sensível, formando assim oito graus mais a próxima tónica; ²fazendo uma descendente a partir da tónica, o primeiro de cada par de graus pertence ao acorde da tónica.

Por exemplo, tornando bebop o modo eólio (em dó menor): - si - sib - lá - sol - fá - mib - ré - .

Vamos agora à mixolídia bebop b9b13!

O modo mixolídio da escala diatónica é, descendentemente em dó maior: dó - sib - lá - sol - fá - mi - ré - dó

Tornando ele bebop: dó - si - sib - lá - sol - fá - mi - ré - dó

Como é b9 (2m), precisamos reduzir a pós-tónica: dó - si - sib - lá - sol - fá - mi - réb - dó

Como é b13 (6m), precisamos reduzir a relativa: dó - si - sib - láb - sol - fá - mi - réb - dó

Escrevendo os intervalos: (8) (7M) (7m) (6m) (5) (4) (3M) (2m) (1)

Se reparar bem, é muitíssimo parecida com a Maqām Hiyascar, apenas possui a sétima da dominante a mais, o que soa – pelo menos pra mim – como se completasse a escala, apesar de tirar dela sua característica de maqām primária.


**

Espero que o leitor goste desta pequena brincadeira!

[]'s
Cacilhas, La Batalema


*(1) = tónica, (2M) = segunda maior, etc.

2009-05-08

Características do Pseudoceticismo

lâmpada Marcello Truzzi cita onze características onde cada uma sozinha pode classificar uma argumentação como pseudocética:


  • A tendência de negar, em vez de duvidar.
  • Utilização de padrões de rigor acima do razoável na avaliação do objeto de sua crítica.
  • A realização de julgamentos sem uma investigação completa e conclusiva.
  • Tendência ao descrédito, em vez da investigação.
  • Uso do ridículo ou de ataques pessoais.
  • A apresentação de evidências insuficientes.
  • A tentativa de desqualificar proponentes de novas idéias taxando-os pejorativamente de pseudocientistas, «promotores» ou «praticantes de ciência patológica».
  • Partir do pressuposto de que suas críticas não tem o ônus da prova, e que suas argumentações não precisam estar suportadas por evidências.
  • A apresentação de contraprovas não fundamentadas ou baseadas apenas em plausibilidade, em vez de se basearem em evidências empíricas.
  • A sugestão de que evidências inconvincentes são suficientes para se assumir que uma teoria é falsa.
  • A tendência de desqualificar toda e qualquer evidência.


A maior parte dos sítios supostamente sobre Ceticismo que encontro na Web enquadram seus textos em algum destes pontos.

Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida em vez da negação – descrença em vez de crença – críticos que assumem uma posição negativa em vez de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam «céticos» são, na verdade, «pseudo-céticos». (Marcello Truzzi)


[]'s
Cacilhas, La Batalema