2007-03-09

Empresarial

Baal Meu contador às vezes não me entende – assim como eu às vezes não o entendo –, o que gera uma falha de comunicação que me deixa na saia justa.

Não é culpa dele. Não é minha culpa. Tenho minha empresa há três anos, mas sou marinheiro de primeira viagem (é minha primeira empresa) e penso de forma diferente da maioria das pessoas que abrem empresas – ou nem tão diferente assim, mas diferente de praticamente todos os clientes de meu contador.

Sinto então uma obrigação de esclarecer meu ponto de vista. Não sei se isso pode ser útil, apenas sinto que preciso.

Empregabilidade


Comecei muito cedo na Informática, mas passei um período de minha vida trabalhando com outras coisas por influência de meus familiares, que acreditavam naquela magnífica máxima: «no futuro existirão no máximo cinco computadores no mundo todo».

Então a década de 1990 foi conturbada para mim. Estudei Química, Química Fina e Segurança Laboratorial; trabalhei em um projeto de pesquisa de supercondutores no setor de organometálicos do Departamento de Química Inorgânica (DQI) do Instituto de Química do CCMN, UFRJ. Trabalhei com hotelaria: fui recepcionista e cheguei a gerente. Também trabalhei com Música, tocando jazz e MPB em bares.

Como informata aprendi muito de lógica e criei as bases para minha profissão atual; como químico aprendi sobre segurança e a Natureza; como musicista desenvolvi minha criatividade; como hoteleiro (pretensão) aprendi um pouco sobre a necessidade que o ser humano tem de se sentir superior e menosprezar quem está socialmente inferior sempre que possível.

No entanto esse foi profissionalmente o período mais difícil de minha vida. Era muito difícil conseguir um emprego (como químico, informata, musicista ou hoteleiro) e cheguei a ter de catar inhame e pariparoba pra ter o que comer (não me envergonho disso), trabalhei como puxador de carroça (nem disso) e como professor de cursinho de Informática (disso eu me envergonho).

Nessa época a frase que mais ouvia quando era rejeitado numa entrevista de emprego – ou quando rejeitavam um pedido de mudança de cargo – era que não se cria cobra em casa. Talvez um dia eu conte essa história também.

O fato é que esse período me marcou muito. Teve uma época em que eu estava desempregado e minha esposa trabalhando como balconista numa loja de chocolates. Certo dia a gerente, apoiada pelo patrão, mandou ela limpar o banheiro. Não vejo nada de errado em limpar banheiros quando você é contratado pra isso.

Ela disse que não foi contratada para limpar banheiros, e a gerente retrucou que o padrão era quem pagava as contas dela, então se ele disse que ela tinha de limpar o banheiro, ela tinha de limpar.

Minha esposa contraargumentou que o salário era miserável e que não cobria a limpeza do banheiro, então a gerente – eu contei que a gerente era amiguinha do patrão? – disse que se ela não queria cumprir essas obrigações por aquele salário, havia mais vinte que aceitariam sem discutir.

Minha esposa então abandonou o emprego com o meu apoio.

Isso tudo me marcou demais, e um dos motivos para eu ter aberto uma firma é este: acrescentar um pouco de peso para equilibrar a balança.

Com uma empresa, posso prestar serviço para diversos clientes e nenhum deles pode jogar na minha cara que paga minhas contas. Cumpro com minhas obrigações contratuais – sinceramente nas maioria das vezes faço até mais por pura boa vontade – e espero que meus clientes façam o mesmo.

CLT


Certa vez estava conversando com um conhecido meu – muito transtornado – sobre CLT e fui obrigado a concordar com ele que a CLT brasileira traz mais prejuízo do que benefício.

Os encargos são muito altos, impedindo os empregadores de pagar salários melhores a seus empregados.

Entendo seu ponto de vista.

Os impostos e encargos de uma firma em um contrato empresarial nem se comparam aos de CLT.

Assim posso trabalhar, receber melhor e contribuir para com meu país pagando meus impostos.

Compromisso social


Uma coisa importantíssima é que, com o crescimento de minha firma, posso gerar emprego.

A partir de determinado ponto deixo de ser apenas contratado e me torno contratante.

Acho que todos temos um compromisso social e essa é uma das formas que tenho de cumpri-lo.

Muitos empresários (não todos) contratam apenas por necessidade – maldita Lei de Gerson! – e gostam de ser tratados por patrão. Muitos empregadores têm até alguma boa vontade e contratam porque precisam daquele serviço específico, não pela possibilidade de oferecê-lo a seus clientes, já outros pagam empregados simplesmente para ter capachos, pelo prazer de humilhar.

Penso de forma diferente.

Procuro meios para poder contratar as pessoas. Sinto-me na obrigação social de fazê-lo.

Não por pena, mas porque as pessoas merecem oportunidades e, se posso oferecê-las, é mais que um direito, é meu dever.

Aliás, tenho amigos empresários que, creio eu, pensam mais ou menos da mesma forma.

Conclusão


Não sei se isso pode ajudar alguém ou se foi e será apenas um desabafo – estou num período de muitos desabafos: preciso deixar o peso das costas cair para seguir em frente.

Pelo menos formalizei meu ponto de vista e espero que alguém tire algo de bom disso tudo.

[]'s