2010-03-20

O papel do homem no Universo

Habitante de Pompéia morto rezando Recentemente descobri um blog muito bom chamado Tyrannosaurus Rex, raridade entre os blogs de ateus.

[update 2010-04-16]
Retiro o que eu disse. Tyrannosaurus é apenas mais um ateu fanático apaixonado por suas próprias crenças.

Eu apenas havia me deixado iludir pela empolgação de achar ter encontrado um ateu mente aberta.
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[update 2010-08-28]
Tyrannosaurus disse que fui injusto e julguei-o sem conhecer.

Foi a impressão que fiquei dele a partir de nossas conversas. Assim sendo, peço desculpas por qualquer julgamento e espero poder tirar essa impressão ruim em conversas futuras.
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Inclusive recomendo fortemente a leitura do espirituoso artigo Graças a Deus.

No entanto outro artigo que li, O Papel do Homem no Universo, sofre de alguns problemas de pressuposição. Tendo eu comentado superficialmente, sinto-me na obrigação de explicar minha percepção, que realmente não ficou nada clara.

Antes de começar, quero deixar claro que em momento algum pretendo diminuir meu colega blogueiro, que já ganhou meu respeito.

Quando crescemos, assumimos muitas premissas de vida, que acabam se tornando princípios de nosso caráter. Todos precisamos de princípios, sem os quais nos tornamos amorais, mas as premissas que norteiam tais princípios podem ser equivocadas e precisam ser constantemente reavaliadas, o que pode gerar mudanças de modus vivendi – eu mesmo já tive minha guinadas.

O problema é que a grande maioria das pessoas – pessoas boas! – não reavaliam suas premissas, assumindo que estão corretas. Mesmo pessoas como eu, que se reavaliam constantemente, possuem premissas erradas, é óbvio.

É a partir dessas premissas erradas, assumidas como corretas, que surgem o Ateísmo (enquanto verdade científica), o Materialismo e as instituições religiosas.

É claro que os ateus vão me crucificar porque enxergam suas premissas como «percepção da verdade», assim como os religiosos também vão me mandar pro inferno porque suas premissas são, a seus olhos, «percepção da verdade».

Mas deixemos isso de lado e nos dirijamos ao que interessa…

«Você parou de bater em sua esposa?»¹


Tyrannosaurus deduz corretamente que a pergunta «Qual o papel do homem no Universo?» embute a suposição de que há um papel do homem no Universo, porém daí ele deduz que a pergunta também pressupõe:
  • a existência de um criador;
  • a existência de um plano divino;
  • que os humanos têm grande importância no Universo;
  • e portanto que os humanos têm um papel definido (e grandioso) nesse plano divino.


É claro que é isso que os fanáticos religiosos querem que você deduza, em diversos contextos, e vão tentar levá-lo a essa conclusão por todas as formas possíveis. São suposições demais, como cita Tyrannosaurus, no entanto a pergunta em si não pressupõe nada além de que há um papel do homem no Universo. Nada do que foi listado.

Não há nada de mau em você se questionar sobre o papel do homem no Universo – contanto que você se faça essa pergunta sozinho, sem ninguém que possa dirigir seu pensamento. Creio que você encontrará respostas interessantes e totalmente subjetivas.

Quando você remove o véu das pressuposições que deveriam ser dissociadas da questão, algumas das respostas que surgem podem ser interessantes.

A que mais me chama a atenção é que o papel do homem no Universo pode ser ocupar um nicho natural em seu bioma, nada cabalístico, nada determinístico e de forma alguma grandioso. Quase casual.

Ainda assim é um papel. Por que um «papel» tem de ser determinístico ou grandioso?

Descendo do Pedestal


Tyrannosaurus sugere que, para entender seu papel, o homem deve observar a Natureza.

Aqui faço outro questionamento: por que o homem não pode atribuir a si mesmo um papel?

Assim sendo, o papel do homem poderia ser justamente observar a Natureza e entender onde se encaixar.

A partir da observação da Natureza, Tyrannosaurus conclui que o homem seja apenas um animal. Já sabemos que ele costuma fazer deduções erradas, creio que por mau hábito, e essa é mais uma.

Por que o homem seria apenas um animal?

Agora, você religioso que está aí balançando a cabeça, pergunte-se: por que não seria?

Cientificamente tudo leva a crer que o homem seja sim apenas um animal, mas nada é realmente conclusivo. Há muitas coisas que a Ciência ainda não entende, apesar se vestir a máscara da onisciência religiosa, e talvez nunca entenda… ou entenda um dia. Somos homens, limitados e falhos, e precisamos assumir essa postura para permitirmos o avanço de nosso conhecimento.

O erro que a Ciência aponta na Religião se repete na própria Ciência, provando ser uma característica humana, não religiosa: o hábito de se considerar infalível e dar respostas definitivas.

Lord Kelvin, cientista renomado do século XIX, disse que a Ciência tinha domínio sobre todas as coisas e que nada era desconhecido pela Ciência, décadas antes de Einstein apresentar sua teoria da relatividade, colocando por terra muitos pressupostos científicos.

Mesmo Einstein sofreu!

O leitor verá muitas vezes ateus e pseudocéticos argumentarem que algo não existe porque não há evidências, mas ausência de evidências não é evidência de ausência. Cito Einstein porque a teoria da relitividade de Einstein sofreu da ausência de evidência por muitos anos.

Na primeira tentativa de provar a teoria da relatividade, Arthur Eddington observou justamente o contrário, o que, segundo a visão de ateus e pseudocéticos, seria evidência da inexistência de tais forças.

Anos depois, o próprio Eddington conseguiu evidências que comprovavam a teoria da relatividade de Einstein. De duas uma: ou a teoria não valia e passou a valer magicamente; ou ausência de evidências não é evidência de ausência.

Por ausência de evidências, Tyrannosaurus conclui que o homem é um animal, ponto final. E ainda sobe no pedestal dizendo «tendo entendido e aceito o conceito». É contraditório com o tópico. Onde você fala de descer do pedestal é estranho asssumir verdades absolutas baseado em ausência de evidências.

Mas não é inteiramente culpa do blogueiro: como eu disse anteriormente, todos temos premissas erradas que não aceitamos questionar, às vezes trazidas da infância, às vezes nascidas justamente da luta contra o domínio das verdades infantis.

Finalmente chegamos a um parágrafo genial:
Se existe um criador, ele certamente saberá que chegará o dia em que deixará de ser possível a existência de vida na Terra. Qual seria então o objetivo de se fazer com que diversas espécies de vida se propaguem pelo maior tempo possível? Bem, se há um plano talvez o plano seja exatamente esse: vida por algum tempo e depois, fim da vida. Ou então não há plano nenhum. Há apenas o acaso. E assim eliminamos a suposição (b) acima.


Creio que Tyrannosaurus tenha feito uma pergunta retórica ou quase, mas desafio a todos a realmente se questionar: será que há um plano e esse plano seria justamente vida por algum tempo?

Será que isso não possui alguma finalidade que nos escapa à percepção?

Não estou dizendo sim, mas ‘assumir que não’ é pura arrogância.

Crença


Sou humano e como tal tenho minhas crenças, e não é justo eu escrever um artigo cético sem citá-las para que o leitor possa questionar como minhas crenças interferem em meu ceticismo.

Cito isso porque os ateus fingem (para si mesmos às vezes) que não têm crenças para que ninguém questione, pois é perigoso que alguém identifique tais crenças permeando seu discurso. Assim toda mentira materialista ruiria em suas bases fracas.

O ateu crê no acaso, na inexistência de deuses e, enquanto materialista, que não há existência além da matéria – assim como o cientista vitoriano acreditava que não existisse nada desconhecido pela Ciência.

Eu creio no propósito, na escolha e na causalidade. Segundo meu entender, nada existe sem propósito e toda escolha gera consequências.

O fato de sermos incapazes de perceber determinado propósito não indica que ele não exista. Porém o ateu não gosta de ter a palavra incapaz associada a ele.

Somos incapazes de uma série de coisas, isso sim é fato, e essa é a verdade que precisamos realmente entender e aceitar.


Caro Tyrannosaurus, por favor não me leve a mal, nenhuma das acusações aqui feitas são pessoais contra você, mas ou falhas nossas, que precisamos nos policiar, ou falhas do Pseudoceticismo, que precisa ser combatido como qualquer fanatismo religioso.

[]’s
Cacilhας, La Batalema


¹Alguns dos tópicos aqui refletem os tópicos no artigo original.