2009-04-11

Boriska

Boriska Eventualmente chegam a mim mensagens sobre Nova Era e novos messias ou avatares. Não é que eu creia que sejam mentiras, apenas sou cético e avalio tais mensagens de mente aberta.

Recentemente me informaram sobre um garoto de Volgogrado chamado Boriska, que apresenta um conhecimento muito além do esperado para sua idade – agora ele deve ter doze anos, mas na época dos primeiros relatos, ele tinha sete anos.

Os mesmos textos que circularam em 2005 estão voltando a circular agora em 2009 devido a datação de suas previsões. Então, antes de ler o texto aqui, aconselho o leitor a ler o original na Cabeça de Cuia ou na Associação de pesquisa OVNI, pois o texto aqui é uma crítica a determinados pontos do artigo.

Antes de destacar os pontos críticos, gostaria de expor meus motivos.

Não creio que o menino esteja agindo de má fé. Creio que quem fez a divulgação original agiu de má fé.

O tipo mais perigoso de pessoa no mundo é aquela que quer acreditar. Ela acredita antes mesmo de conhecer os fatos e fecha a mente para eles.

O cético não é aquele que descrê, é aquele que mantém a mente aberta. Crentes (que creem e fecham a mente) e pseudocéticos (que descreem e fecham a mente) são idénticos, apenas escolheram lados opostos.

Dito isso, vamos aos comentários.

Muitos foram surpreendidos por dois factores distintos. Em primeiro lugar, o garoto possuía excepcionalmente profundo conhecimento. Seu intelecto era obviamente muito distante do de um menino tipico de sete anos de idade. Nem todos os professores seriam capazes de narrar toda a história da Lemuria e seus habitantes em tais detalhes. Você será capaz de encontrar qualquer menção deste país nos manuais escolares. A ciência moderna ainda não provou a existência de outras civilizações.

Em segundo lugar, fomos todos surpreendidos com a linguagem adiantada que o garoto utilizava. Estava muito acima da que os meninos de sua idade normalmente usam. Seu conhecimento da terminologia específica, detalhes e fatos de Marte e da Terra nos fascinaram a todos.

Genialidade e inventividade andam de mãos dadas.

«Poderia ele ter inventado isso tudo?»

«Duvidoso», disse o meu amigo. «Para mim, isto parece como que o garoto estava compartilhar suas recordações pessoais de vidas passadas. É praticamente impossível inventar tais histórias; alguém realmente teria de conhecê-las.»

Isso é subestimar sistematicamente a inventividade de uma criança tão genial.

Como eu disse, as pessoas mais perigosas são as que querem acreditar. Exemplos? Fanáticos religiosos, terroristas, nazistas…

Afirmações extraordinárias requerem demonstrações extraordinárias e toda essa história ainda carece disso.

— Ninguém nunca lhe ensinou essas coisas, disse a Nadya. Mas, às vezes, ele sentava nessa posição de lótus e começava novamente a falar. Ele falava sobre Marte, sobre sistemas planetários, civilizações distantes… não podíamos acreditar com nossos próprios olhos aquilo que ouvíamos. Como pode uma criança saber tudo isso? Cosmos, histórias sem fins de outros mundos e dos imensos céus, são como mantras diários para ele desde que ele completou dois anos.

Reencarnação é uma hipótese viável, mesmo que os materialistas e os evangélicos rolem pelo chão de raiva – apenas carece ainda de pesquisa séria –; mas inventividade também é.

Quanto mais genial uma pessoa é, mais crível é sua inventividade, e os defensores convenientemente ignoraram essa hipótese muito mais simples.

Mais tarde, ele começou a recordar doutro livro de Muldashev intitulado «Em Busca da Cidade dos Deuses». O livro é essencialmente dedicado aos antigos túmulos e pirâmides. Boriska firmemente declarou que as pessoas encontrarão o conhecimento sob uma das pirâmides (não a pirâmide de Quéops). E isso ainda não tinha sido descoberto. «A vida irá mudar quando a Esfinge for aberta» disse ele e acrescentou que a grande Esfinge tem um mecanismo de abertura em algum lugar atrás da sua orelha (mas ele não se recorda exactamente onde). O menino também fala com grande paixão e entusiasmo sobre a civilização Maia. Segundo ele, sabemos muito pouco sobre esta grande civilização e seu povo.

Então digo que é preciso, de mente aberta, examinar a Esfinge. Aliás, o examinador deve ser cético e neutro, nem crer, nem descrer.

Se nada for achado, tudo bem, pode ser que não entendamos o tal mecanismo, mas se for encontrado algo, que se abra logo a Esfinge!

Interessantemente, Boriska acha que agora finalmente chegou o tempo para que os «seres especiais» nasçam na Terra. «O renascimento do planeta se aproxima. Novos conhecimentos virão em grande quantidade, trazendo uma mentalidade diferente para os terráqueos.»

Sabemos quase intuitivamente – agora os céticos é quem vão se revirar, porque também sou humano e assim tenho minhas crenças – que isso é verdade.

Porém também sabemos por tradição que falsos profetas vieram, vêm e virão. Não seria o caso?

— Como é que você sabe sobre essas crianças dotadas e porque isso ira acontecer? Tem consciência de que eles são chamados de miúdos «índigo»?

— Eu sei que elas estão a nascer. No entanto, eu não conheço ninguém em minha cidade ainda. Talvez possa ser esta menina chamada Yulia Petrova. Ela é a única pessoa que acredita em mim. Outros simplesmente riem das minhas histórias. Algo vai acontecer na terra, é por isso que estas crianças serão importantes. Elas serão capazes de ajudar as pessoas. Os pólos vão se inverter. A primeira grande catástrofe com um dos continentes acontecerá em 2009. Próxima acontecerá em 2013 e será ainda mais devastadora.

Polos se inverterem é bem forte… se realmente acontecer – quase uma impossibilidade física – será a tal demonstração extraordinária da qual falei.

No entanto, assim como todos os oráculos modernos e atuais, Boriska faz uma previsão vaga (catástrofe com um dos continentes) que pode ser associada a qualquer fenómeno geológico ou meteorológico. Num período de mudanças climáticas, quase qualquer coisa pode acontecer em qualquer lugar. É escolher um evento qualquer e apontar: «Viu! Eu previ isso!»

Prever eventos que já aconteceram é fácil, até eu.

— Boris, porque nossas sondas espaciais desaparecem ou falham antes de chegar a Marte?

— Marte transmite sinais especialmente destinados a destruí-las. Tais missões contem radiação maléfica.

Essa é a maior falácia do texto. Para inventar estorietas e querer credibilidade, é preciso se informar sobre os fatos.

É verdade que as missões Marte são as que possuem menor probabilidade de sucesso: 33%, no entanto treze missões a Marte já foram bem sucedidas, das quais seis aterrizaram na superfície do planeta e transmitiram de lá conforme previsto.

Aliás a maioria das missões Marte falhou antes de deixar a atmosfera superior da Terra, o que desqualifica a afirmação de sinais especialmente destinados a destruí-las – a menos que de Marte eles a destruam ainda aqui na Terra sem ninguém notar.

Ah! A missão Nozomi de 1998 foi danificada por uma erupção solar, nada a ver com Marte.

Eu estava impressionado com o conhecimento dele sobre esse tipo de radiação. E absolutamente verdadeiro. Em 1988, um residente de Volzhskii, Yuri Lushnichenko, um homem com poderes extra-sensoriais, tentou alertar as autoridades soviéticas sobre a queda inevitável das primeiras missões soviéticas a Marte, «Phobos 1» e «Phobos 2». Ele também mencionou esse tipo de radiação desconhecida e maléfica sobre o planeta. Obviamente, ninguém o levou a serio então.

Phobos 2 realmente teve problemas desconhecidos (sinal destruidor?), já Phobos 1 teve problema no software: houve erros no código, não foi destruída por um «sinal especialmente destinado a destruí-la».

Ou seja, Phobos 1 foi lançada já fadada ao fracasso.

— Nós decolamos e pousamos na Terra a todo momento!

O garoto pegou um giz e começou a desenhar um objeto oval sobre o quadro negro.

— Ele consiste de seis camadas – disse. – 25% camada externa, feita de metal durável, 30% segunda camada feita de algo similar à borracha; a terceira camada compreende 30%, novamente de metal. Os últimos 4% são compostos de uma camada magnética especial. Se carregamos essa camada magnética com energia, essas máquinas serão capazes de voar a qualquer ponto do Universo.

25% + 30% + 30% + 4% = 89%

Os outros 11% são cuspe, areia e fita adesiva, certo?

Uma criança tão genial não deveria errar um cálculo tão simples – quiçá um ser superevoluído de outro planeta.

— Boris, diga-nos porque as pessoas ficam doentes.

— A doença resulta da incapacidade das pessoas de viverem adequadamente e serem felizes. Você deve esperar pela sua metade cósmica. Alguém jamais deveria envolver-se e bagunças o destino de outros indivíduos. As pessoas não deveriam sofrer por seus erros passados, e sim entrar em contacto com aquilo que lhe foi predestinado e tentar alcançar as alturas e conquistar seus sonhos. (essas foram as exactas palavras que ele usou) Vocês têm de ser mais simpáticos e calorosos. Caso alguém o ataque, abrace seu inimigo, peça-lhe perdão e ajoelhe-se diante dele. Se alguém o odeia, ame-o com todo fervor e devoção e peça-lhe desculpas. Essas são as regras do amor e da humildade. Sabem porque os lemurianos pereceram? Eu tenho parte da culpa. Eles não desejavam mais se desenvolver espiritualmente. Eles se afastaram do caminho predestinado e assim destruíram a unidade global planetária. O Caminho da Magia leva a lugar nenhum. O Amor é a verdadeira Magia!

De novo aquela babozeira de ter de ser feliz e de cara metade.

Perseguir a felicidade é como perseguir o próprio rabo: ninguém que a persiga, a alcança – ou então Gautama Buda estava estupidamente errado.

E procurar a metade cósmica é uma versão pós-moderna do príncipe encantado. As pessoas fantasiam um par perfeito que simplesmente não existe, daí não percebem a passagem do parceiro real e o perdem. É isso que Boriska propõe.

Ninguém encontra seu par se não se bastar como ser humano.

— Como você sabe disso tudo?

— Eu sei. Kailis.

— O que você disse?

— Eu disse olá. Essa é a linguagem do meu planeta.

É estranho dizer olá no meio de uma conversa, logo após dizer eu sei.

Traduzamos:
Eu sei. Olá.

Fez sentido? Concisão vai bem, obrigado.

**

Não é descrença… é ceticismo. Eu sei que coisas assim existem sim, mas também sei que há muita gente por aí que quer se dar bem em cima da crença alheia.

Pode ser que o garoto esteja de boa fé, mas quem o está divulgando certamente não está.

[]'s
Cacilhas, La Batalema

PS: Fotos de OVNIs. =D