2011-07-04

Privilégios sociais

Baal Tenho visto muitas manifestações em defesa do orgulho hétero (ou hetero, sem acento, em referência à palavra de origem «heterossexual»), de gente 100% branca e dos direitos de homem (em oposição a mulher).

As alegações são de que estaria havendo uma inversão de valores e que a tradição estaria sendo destruída.

Pois bem, em certo ponto é verdade, mas de um jeito positivo.

Os antigos valores de direito nato e segregação das mais diversas formas – racial, sexual, religiosa… – estão sendo derrubados. Minorias sociais estão ganhando voz – principalmente na Internet – e as pessoas estão se valorizando mais.

Não chegamos lá – de fato ainda estamos muito longe disso –, porém é inegável que estamos em um ponto de mutação, the point of no return.

Os dizeres 100% negro encontrados em camisetas representam o orgulho de um povo que, mesmo após séculos sendo tratado como sub-humanos, vence como iguais que são.

Não me agradam as cotas para negros, é quase como se dissessem que os negros não têm a mesma capacidade que os brancos – o que é obviamente mentira. No entanto os séculos de injustiça contra os negros geraram uma disparidade social quase instransponível e, gostando ou não, as cotas são o que temos de melhor por ora para combater isso.

Enquanto não surgir uma alternativa melhor às cotas, devemos aplicá-las.

Os homossexuais lutam por respeito. Ninguém está pedindo para transformar seu filho em homossexual, estão pedindo que seu filho, caso se descubra heterossexual, respeite a escolha dos homossexuais e não os discrimine.

Demitir ou deixar de contratar uma pessoa profissionalmente capaz por ser homossexual não é opção ou direito, como pretende a Deputada Myriam Rios (aliás, quem foi o energúmeno que votou nela?), é discriminação explícita.

Essas manifestações contra as minorias são uma reação de grupos sociais privilegiados com medo de verem aqueles que são diferentes deles com os mesmos direitos. Quem defende privilégios quer desigualdade e discriminação.

Outro dia vi um vídeo no Facebook de um anónimo (nesse caso não se identificou porque sabe o tamanho da merda que disse) que usava desinformação e distorções para tentar colocar uma minoria social contra outra. E teve gente aparentemente inteligente concordando!

Olha gente, conselho: não é pra engolir qualquer porcaria só porque pinta um mundo que vocês, homens brancos e heterossexuais, gostariam que existisse. É preciso digerir antes de aceitar ou rejeitar.

Só para concluir o raciocínio, feminismo não é machismo ao contrário, é a luta pela igualdade dos sexos. Tem muito machista burro por aí que acha que o mundo é preto e branco, ou o homem é superior, ou a mulher. São tão deficientes intelectualmente que nem conseguem imaginar que possa haver igualdade.

O pior é que tem uma meia dúzia de pseudo-feministas que pensam igual. Obviamente são minoria no movimento. Infelizmente mulheres machistas não são minoria.

Sou aparentemente branco (tenho uma forte descendência indígena, mas é difícil detectar), homem e heterossexual. Todos fatores que me levariam a desejar privilégios vigentes para mim mesmo e defendê-los.

Mas há algo mais forte em mim que se chama retidão moral. Por isso eu simplesmente não consigo concordar com desigualdades e discriminação.

Dou graças por ter sofrido segregação, assim ainda é fácil para mim me colocar no lugar de outras pessoas.

Fui um branco (mestiço de fato, mas as aparências infelizmente imperam) em meio a mestiços e fui destratado toda minha infância como se eu tivesse culpa pelo comportamento repreensível dos brancos racistas privilegiados.

Sofria discriminação dos brancos sempre que alguém descobria que eu não vinha de uma família decente¹ – o que nunca fiz questão de esconder.

Então sei bem o que é ser segregado e poderia simplesmente me aproveitar de minha aparência para inverter a situação e ser um privilegiado, porém continuo lutando contra o racismo, a homofobia (você é homófobo se é contra direitos civis iguais para homossexuais, saiba disso), machismo e toda forma de preconceito e segregação.

E você, branco, homem, heterossexual, também pode fazer o que é certo, não é obrigado a defender as desigualdades sociais só porque seus amiguinhos de merda dizem que você é do clubinho deles.

[]’s
Cacilhας, La Batalema


¹Família decente: 100% branca e de tradição.