2006-10-04

Esperanto


Faz tempo que quero escrever alguma coisa sobre o Esperanto.

Geralmente tratado com preconceito, desconfiança e desinformação, o Esperanto é a língua artificial mais falada e mais bem planejada da história humana. Foi idealizado por Ludwik Zamenhof em 1887, mas ganhou vida própria ao logo das décadas.

Seu aprendizado é dez vezes mais rápido do que o do inglês, e é possível atingir um grau de excelência impossível de ser conseguido no inglês (ou qualquer língua natural) por um falante não-nato.

— Por quê?

Simplesmente porque ninguém nunca terá a mesma fluência numa língua que tem um falante nato. Sempre terá algum sotaque – não que o falante nato não tenha sotaque, mas seu sotaque é o «sotaque correto»...

Quando se fala de uma língua artificial, todos os sotaques e regionalismos são «corretos», visto que nenhum é o sotaque nativo.

Uma prova disso é o nascimento do Globish.

Além do mais, o uso de uma língua natural para comunicação internacional resulta necessariamente na supremacia cultural dos países que possuem tal língua como nativa/oficial. Exemplos disso são, além do efeito destrutivo das dominações inglesa na Índia e espanhola na Galiza; situações constrangedoras em reuniões da ONU, como quando um representante de um governo do Leste Europeu disse «my government sinks» («meu governo afunda») em vez de «my government thinks» («meu governo acha», obviamente por uma natural dificuldade com o fonema þ) ou quando houve uma má interpretação do termo «period», que causou o fim de uma audiência séria, terminada em uma mal-educada crise de risos dos representantes dos EUA e da Inglaterra.

Bem, tendo sido explicados os motivos, vamos esclarecer alguns equívocos.

Algumas pessoas dizem que a intenção do Esperanto é substituir as demais línguas do mundo. Isso é ridículo. O Esperanto é uma ferramenta de comunicação internacional e não pretende substituir nenhuma língua nativa, mas sim ser uma segunda língua para todos os povos do mundo.

Na verdade o efeito do Esperanto é justamente o contrário. Historicamente sabemos que o uso de uma língua natural para comunicação internacional resulta na destruição de outras línguas e consequentemente de suas respectivas riquezas culturais. Um bom exemplo é a influência do latim na cultura européia – alguém sabe alguma coisa sobre a língua ibérica pré-latina? Ninguém. Nada sobreviviu, a não ser alguns nomes de localidade que hoje não fazem sentido algum.

Devido a suas características peculiares, o uso do Esperanto como ferramenta de comunicação internacional fomenta a preservação das línguas naturais, preservando assim também a Cultura Humana.

Agora vamos ver um pouco do Esperanto em si.

O Esperanto é sistematicamente regular e possui apenas dezesseis (16) regras gramaticais, a saber:

  1. Não existe artigo indefinido. O artigo definido é la, que é invariável quanto a gênero, caso ou número.

  2. Os substantivos são terminados no nominativo singular por -o; para o plural acrescenta-se -j. Há apenas dois casos: nominativo e acusativo, o acusativo forma-se pelo acréscimo da terminação -n.

  3. Os adjetivos são formados pela terminação -a e devem concordar em número e caso com os substativos. O comparativo de superioridade é formado pelo vocábulo pli, o superlativo por plej. O complemento do comparativo é ol, o do superlativo é el.

  4. Os numerais cardinais são: 0 nulo, 1 unu, 2 du, 3 tri, 4 kvar, 5 kvin, 6 ses, 7 sep, 8 ok e 9 naŭ, 10 dek, 100 cent e 1000 mil. Dezenas e centenas se formam pela junção dos numerais (ex.: 23 dudek tri). O acréscimo da terminação -a forma os numerais ordinais (ex.: 2º dua).

  5. Os pronomes pessoais são mi (eu), vi (tu, originalmente ci), li (ele), ŝi (ela), ĝi (neutro da terceira pessoa), ni (nós), vi (vós), ili (eles) e oni (indefinido). Os pronomes possessivos são a forma adjetiva, ou seja, acrescentando-se a terminação -a.

  6. O verbo não varia quanto a número ou pessoa. Os modos/tempos são: presente -as, passado -is, futuro -os, condicional -us, infinitivo -i, imperativo -u, particípio presente ativo -ant-, particípio passado ativo -int-, particípio futuro ativo -ont-, particípio presente passivo -at-, particípio passado passivo -it-, particípio futuro passivo -ot-. A voz passiva se faz com o verbo esti (ser/estar) e o complemento é de («feito por mim» = «farita de mi»).

  7. Os advérbios são terminados em -e. Os graus comparativos e superlativo são formados da mesma forma que os adjetivos.

  8. Todas as preposições por si pedem o caso nominativo.

  9. Cada letra representa um som e cada som é representado por uma única letra, invariavelmente. Toda palavra é lida como se escreve.

  10. Em toda palavra completa (isto é, sem apóstrofo), a sílaba tônica é a penúltima (paroxítona). Nas palavras apostrofadas, a sílaba tônica é a última (oxítona).

  11. Palavras compostas são formadas por justaposição, sendo a principal a última. Terminações gramaticais são consideradas palavras autônomas.

  12. A negação é simples (não = ne). Havendo outra palavra negativa, retira-se a partícula ne.

  13. Para indicar alvo, direção, usa-se a terminação do acusativo (-n). Ex.: kie = onde, kien = para onde.

  14. Toda preposição tem significado constante e bem definido; quando o significado da preposição não é bem definido, usa-se a preposição je.

  15. Palavras estrangeiras são usadas sem alteração.

  16. A terminação substantiva -o e o -a de la podem ser substituídos por um apóstrofo.


Quem leu todas as regras (ou pelo menos as dez primeiras) deve ter visto que a nona regra diz que para cada letra há um som e para cada som um letra.

São 28 letras no Esperanto, cada uma representando um único e invariável som:

  • A – «a» aberto comum, como em casa;
  • B – como em bola;
  • C – como o «t» do latim clássico antes de «i», é um «ts» bem fundido (X-SAMPA: /ts)/);
  • Ĉ – como em tchau;
  • D – como em dado;
  • E – «e» fechado, como na própria palavra fechado;
  • F – como em faca;
  • G – como em gato;
  • Ĝ – como no inglês jet;
  • H – como no inglês hat;
  • Ĥ – exatamente a letra tcheca, ou seja velar uvular fricativo (X-SAMPA: /kR)/);
  • I – «i» vocálico, como em indígena, nunca como em meio;
  • J – semivogal «i», como em meio (é uma consoante);
  • Ĵ – como em jato ou geléia;
  • K – como em carro;
  • L – como em lua;
  • M – como em meio;
  • N – como em nada;
  • O – «o» fechado, como em outro;
  • P – como em pato;
  • R – como em raro;
  • S – como em sapo;
  • Ŝ – como em chato;
  • T – como em tatu;
  • U – «u» vocálico, como em último, nunca como em meu;
  • Ŭ – semivogal «u», como em meu (é uma consoante);
  • V – como em vovó;
  • Z – como em casa.


Não existem vogais nasalizadas, nem «é» e «ó» (abertos). Também não fazem parte do alfabeto as letras q, w, x e y.

Bem, depois disso tudo, seria legal mostrar alguns exemplos, né?

  • «Olá!» – «Saluton!»
  • «Como vai você?» – «Kiel vi fartas?»
  • «Vou bem, obrigado.» – «Bone, dankon.»
  • «Onde fica o banheiro?» – «Kie estas la necesejo?»
  • «Que horas são?» – «Kioma horo estas?»
  • «Quinze para as duas da tarde.» – «Estas kvarono antaŭ la dua posttagmeze.»
  • «Quando vai embora?» – «Kiam vi foriros?»
  • «Ao meio dia.» – «Je tagmezo.»
  • «Você gosta de morangos?» – «Ĉu ŝatas al vi fragoj?»
  • «Sim, gosto.» – «Jes, ŝatas.»
  • «Já está na hora!» – «Jam temp'está!» (herdado do Pra-Esperanto)
  • «Vamos ao trabalho!» – «Ek al la laboro!»
  • «Minha nossa!» – «Ho ve!»
  • «Coitado do cachorro!» – «Ve al la hundo!»
  • «Onde você está indo?» – «Kien vi aliras?»
  • «Estou indo para casa.» – «Mi aliras hejmen.»


Agora já chega! Se quiser aprender procure o Kurso de Esperanto ou o KCE! Depois procure por Gerda malaperis!.

[]'s